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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Nova turbulência global

O mau humor se espalhou de repente nos mercados internacionais, aparentemente porque já subsistia um campo minado por incertezas

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Atualização:

Nos últimos dias, o mercado financeiro mundial enfrentou novas turbulências que afugentaram os investidores das aplicações de risco e os levaram a procurar segurança. A Bolsa de Nova York mergulhou 5,2%; a de Londres, 3,2%; a de Frankfurt 3,7%; e a de Xangai, 5,1% (veja o gráfico abaixo).

Desta vez, não há um fato único que tenha colocado os mercados na defensiva. O mau humor se espalhou de repente, aparentemente porque já subsistia um campo minado por incertezas.

A atividade produtiva mundial perdeu força. O Fundo Monetário Internacional acaba de publicar um informe em que adverte para uma redução do crescimento econômico global tanto neste 2018 como em 2019.

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A guerra comercial entre Estados Unidos e China tende a acirrar-se. O presidente Donald Trump voltou a ameaçar o governo de Pequim com novas retaliações comerciais e a China insiste em que não deixará de revidar.

E tem a puxada dos juros nos Estados Unidos. Até há algumas semanas, tinha-se como certo que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) não abandonaria o gradualismo no ajuste de sua política. No entanto, agora está claro que haverá neste ano uma alta além das já previstas e que o projeto para 2019 será de novos endurecimentos destinados a atacar incipientes focos de inflação.

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A questão não é meramente técnica, porque o presidente Trump voltou a fazer pressão sobre o comando da política monetária: “O Fed enlouqueceu”, disse na quarta-feira. E fez acusações de “excesso de rigidez”.

Os mercados preferem uma política monetária mais frouxa. Com dinheiro mais fácil a circular na economia, os negócios ficam mais azeitados, o consumo se aquece e a atividade produtiva melhora graças à expansão do crédito. O problema aí é que a economia mundial – e não apenas a dos Estados Unidos – parece excessivamente dependente de farta distribuição de dinheiro pelos grandes bancos centrais.

Por enquanto isso continua sendo possível porque a inflação das economias mais fortes continua muito baixa, graças à oferta de produtos industrializados cada vez mais baratos provenientes da China e demais tigres asiáticos; e ao crescente emprego de tecnologias digitais, que vêm reduzindo drasticamente os custos de produção.

Mas os fatores que vêm derrubando o custo de vida estão sob ameaça. A guerra comercial tende a reduzir o fluxo de mercadorias provenientes de economias de baixo custo; a nova onda protecionista também puxa os preços para cima; e a redução de custos pelo emprego de tecnologia da informação pode ter atingido seus primeiros limites. E não dá para desprezar a nova onda de elevação dos preços da energia pela alta recente do petróleo e seus derivados (veja o Confira).

Se por esses motivos e eventualmente por outros a inflação mundial voltar a mostrar a cara, os bancos centrais não terão outra opção senão cortar a ração de moeda para os mercados. Ou seja, terão de puxar os juros para cima.

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Além das incertezas produzidas pelas eleições e pela troca de governo, o Brasil poderá ter de enfrentar também essa virada da maré global que, até recentemente, se mantinha bastante favorável.

» Montanha russa

Os preços internacionais do petróleo também estão sob impacto. Há duas semanas, as cotações do tipo Brent saltavam para a faixa dos US$ 85 por barril de 159 litros, em consequência da quebra de produção do Irã e da Venezuela. Alguns analistas chegaram a se perguntar quando os preços passariam aos US$ 100 por barril. Mas, de repente, os ventos viraram. Passaram a prevalecer fatores baixistas, especialmente a perspectiva de queda da atividade econômica global e o alto nível dos estoques.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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