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Repórter especial de economia em Brasília

Novela mexicana

Temer alertou Meirelles que os emedebistas não o veem como protagonista da chapa

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

Henrique Meirelles renunciou ao cargo de ministro da Fazenda para ser candidato à Presidência da República. Não quer e não será vice-presidente numa chapa do MDB, partido ao qual se filiou há cinco dias.

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Nos próximos meses, vai tentar viabilizar sua candidatura. Não deve aceitar a oferta do presidente do MDB, Romero de Jucá, de ficar instalado na sede do partido, na península dos ministros em Brasília.

Vai contratar marqueteiro próprio, alugar uma casa na capital federal para servir de base à sua equipe de campanha e, principalmente, montar uma agenda de viagens que possa projetá-lo em todo o País como um candidato com condições competitivas de disputar as eleições.

Até agora, Meirelles não reuniu essas condições. E foi esse o recado que o presidente Michel Temer lhe deu nas duas reuniões finais que teve nesta sexta-feira, antes do anúncio formal da renúncia.

Temer alertou Meirelles que as lideranças do partido não o veem como protagonista da chapa porque sua candidatura ainda não está viabilizada. O presidente passou a bola para Meirelles, ao lhe dizer que cabe a ele consolidar esse caminho.

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Para isso, não haveria outra saída legal a não ser deixar o cargo – movimento que quase desistiu de fazer, depois do ato de filiação, na sede do MDB, quando ficou em segundo plano.

Mas, nas pesquisas, continua patinando em 1% das intenções de voto. E o levantamento qualitativo que encomendou mostra que o avanço na economia – que pretende usar como principal bandeira de campanha – ainda não colou junto ao eleitorado. Natural. As pessoas só costumam perceber melhoras na economia real quando as taxas de desemprego começam a cair e o rendimento médio faz o trajeto oposto.

Foi para o risco. Não tinha mesmo muito mais a ganhar ficando no cargo. Sua saída acabou ficando irreversível diante do esvaziamento que enfrentaria permanecendo no governo depois de todo esse banho-maria.

O fim do prazo para os candidatos se desincompatibilizarem de seus cargos no governo e a saída de Meirelles marcam também o término da fase de aprovação de medidas econômicas. Não que o ministro estivesse, nos últimos meses, empenhado numa ofensiva para avançar com a agenda econômica.

Estava bem mais ocupado nas suas viagens, envolvido na novela mexicana em que se transformou o processo de saída do governo. O mais certo a dizer é que a sua via crúcis de pré-candidato teve custo, sim, para a equipe econômica, por mais que sua equipe tente mostrar o contrário, que as coisas continuavam andando como antes.

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Um enredo marcado por idas e vindas que causou constrangimento nos bastidores no time de secretários, que a poucos minutos do anúncio oficial da renúncia de Meirelles ainda não sabiam ao certo se teriam mesmo um novo chefe pelos próximos nove meses.

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A derrota fiscal imposta na votação dos vetos presidenciais é um bom indicador do que vem por aí. A base parlamentar de Temer expôs a desorganização total do governo. Ao aplaudir a derrubada dos vetos do presidente ao Refis (parcelamento de débitos tributários) das micro e pequenas empresas e dos ruralistas, que haviam sido recomendados a Temer pela equipe econômica, a base governista esticou ainda mais a corda já esgarçada da política fiscal.

E é só esse tipo de coisa que vai passar no Congresso.

O governo não tem mais força para aprovar pauta econômica alguma. Caberá agora ao novo ministro, Eduardo Guardia, tentar segurar o tranco do que sobrou e garantir que o crescimento contratado de 3% da economia para 2018 aconteça de fato.

O ajuste possível está dado. E o desmonte do Ministério de Minas e Energia, com a manobra para a ida de Moreira Franco para o comando da Pasta, também é sinal negativo de que o governo abandonou de vez qualquer esforço para levar adiante a agenda nesse setor. Resta apenas a tentativa de dar um novo gás ao BNDES, que continua com dinheiro parado e em crise.

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Ao longo das últimas semanas, Guardia foi e deixou de ser ministro umas 20 vezes. Sofre resistência dos políticos. O que pode ser, no caso, um elogio. É esperar para ver o que vai dar nos noves meses que faltam para o fim do governo.

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