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Novo avião da Embraer só será desenvolvido se houver parceria

Projeto de turboélice que competiria com ATR, da Airbus e da italiana Leonardo, foi desacelerado; presidente da companhia diz que investimentos necessários para plano estratégico estão garantidos

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Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

Foi-se o tempo em que, sozinha, a Embraer bancava grandes projetos. Pelo menos enquanto a companhia não tiver uma situação financeira melhor ou a crise causada pela pandemia da covid-19 não se arrefecer, isso não deve voltar a acontecer, diz o presidente da companhia, Francisco Gomes Neto.

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O desenvolvimento de uma aeronave turboélice que disputaria mercado com o ATR, da Airbus e da italiana Leonardo, não se concretizará enquanto a Embraer não conseguir um parceiro, seja um financiador ou outra fabricante. Inicialmente, a ideia era que esse projeto fosse tocado pela Boeing Brasil Commercial, joint venture que seria formada após a venda de 80% da divisão de aviação comercial da Embraer para a Boeing.

“Sem parceria, não vamos dar andamento, neste momento, ao projeto. Pelo menos até a gente enxergar uma melhoria no cenário e na nossa situação financeira. Mas achamos que vamos encontrar parceiros interessados. Estamos fazendo alguns contatos”, afirmou o executivo. 

Companhia diz que investimentos para o plano de desenvolvimento Embraer 2021-2025 estão garantidos. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Segundo Gomes Neto, enquanto uma parceria não é firmada, o projeto está sendo tocado em ritmo lento. A nova velocidade de desenvolvimento contrasta com a que a Embraer estava acostumada. Em pouco mais de dez anos, a empresa desenvolveu simultaneamente uma nova família de aviões comerciais, os E2, ao custo de US$ 1,7 bilhão, e um cargueiro militar, o C-390 Millenium, a US$ 4,6 bilhões (este financiado pelo governo federal).

Nesse período de grandes desenvolvimentos, a Embraer investia, anualmente, de 5% a 5,5% do seu faturamento - porcentual que deve recuar nos próximos anos. “Nessa altura não faz sentido (mantê-lo), mas estamos garantindo os investimentos para não comprometer o plano de retomada de crescimento”, acrescenta o presidente da empresa.

Segundo fontes, porém, há uma preocupação no setor aéreo de que o corte de custos que a companhia vem promovendo para atravessar a crise e aumentar a rentabilidade afete os investimentos em tecnologia. Gomes Neto diz que a redução de gastos não ocorre de maneira “ditatorial”.

“Criamos um processo que se chama torre de controle de gastos. As despesas passam por lá e vimos que várias delas, como estacionamento muito elevado, não precisávamos. Isso está permitindo milhões de dólares de economia. Nos investimentos, a mesma coisa. Não paramos investimentos em inovação nem em melhoria de produtos.”

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Questionado se o aporte do BNDES e de bancos privados, que pode chegar a US$ 600 milhões e foi aprovado em junho, é insuficiente para novos investimentos, o executivo afirmou que os projetos que serão desenvolvidos até 2025 têm recursos garantidos. 

“Estão equacionados os investimentos que precisamos para executar o plano Embraer 2021-2025. Esse plano não inclui essas parcerias estratégicas. Isso tudo são ‘upsides’ que estamos buscando conseguir e que só vão melhorar a performance da companhia.”

Gomes Neto ainda destacou que a empresa conseguiu equilibrar sua situação financeira após receber o dinheiro do BNDES e emitir títulos de dívida, o que permitiu alongar o perfil do endividamento. “Estamos em uma situação boa de liquidez para os próximos dois ou três anos, que nos dá tranquilidade para concluir essa gestão de crise neste ano, preparar a companhia para crescer a partir de 2021 e dar andamento ao plano estratégico 2021-2025.”

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