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Novo economista de Ciro divide opiniões do mercado

Por Agencia Estado
Atualização:

A indicação do economista José Alexandre Scheinkman para compor a assessoria econômica do presidenciável Ciro Gomes (PPS) dividiu as opiniões de analistas no mercado financeiro. De um lado, há quem acredite ser este um sinal de que o radicalismo presente nos discursos de Ciro quando se refere aos bancos e ao mercado faz parte apenas de uma estratégia de campanha eleitoral. Do outro, há quem acredite exatamente no oposto: a indicação de Scheinkman não teria outro objetivo senão o de criar um factóide positivo aos olhos do mercado, que em nada mudaria a aparente aversão de Ciro em relação aos bancos e em relação ao que pretende fazer no governo caso vença as eleições. Segundo os analistas, esta é uma dúvida que será devidamente esclarecida nas próximas semanas, quando ficará mais claro o papel efetivo que o economista da Universidade de Princeton (EUA) terá na campanha da Frente Trabalhista. Por enquanto, a indicação o coloca apenas como uma espécie de "conselheiro" de campanha, que inclusive não o tiraria das aulas em Paris até o fim do ano. Também não existem afirmações positivas ou negativas sobre se o economista comporia a equipe de Ciro num eventual governo. Outro ponto a ser verificado, destacam os analistas, está no próprio programa econômico da Frente Trabalhista. "Se o programa ficar o mesmo, sem mudanças, será uma prova de que a contribuição do Scheinkman será meramente decorativa", afirma o economista de um grande banco estrangeiro, sublinhando as propostas da volta do "imposto Kaldor" ou da criação de um megafundo para resolver o problema da Previdência presentes no programa, ambas pouco palatáveis aos olhos do mercado. A efetiva influência de Scheinkman sobre a campanha de Ciro poderá também ser avaliada, lembram os analistas, pelos discursos e entrevistas sobre assuntos que inevitavelmente serão cobrados de ambos, sobretudo aqueles relacionados aos bancos e ao mercado financeiro. A não ser que um dos dois mude radicalmente o discurso, algo considerado muito difícil tanto pela personalidade de Ciro quanto do economista de Princeton, seria natural o surgimento de divergências. "O mercado ficará confuso com eventuais desautorizações ou mudanças de atitude de um dos lados sobre as questões econômicas", afirma o economista de um banco local. Scheinkman considera, por exemplo, um "grande erro" o modelo de substituição de importações para reduzir o déficit das contas externas no Brasil, economia que avalia ainda é demasiadamente fechada. Defendeu recentemente que os planos dos candidatos à Presidência deveriam ser consistentes com a manutenção do superávit fiscal - e se necessário um aprofundamento deste -, sublinhando que não tinha visto essa consistência em nenhuma das propostas conhecidas. Afirmou também que o País está longe de uma moratória: "O Brasil tem estratégias que podem evitar a moratória. Cabe ao próximo governo tomar as medidas para reduzir a relação entre a dívida e o PIB." Trata-se de um discurso exatamente em linha com os preceitos do liberalismo dominante no mercado financeiro. Resta saber o que Ciro acha disso. O mercado, na dúvida, deverá manter a cautela com o candidato do PPS. Dólar A queda do dólar nesta segunda-feira reflete o "efeito Scheinkman" sobre o mercado de câmbio, afirma o economista-chefe do Banco Sul América de Investimentos, Luiz Carlos Costa Rego. "Se não fosse este fato, o mercado estaria se apegando ao resultado da pesquisa do final de semana, que não foi nada bom". De acordo com ele, o mercado está considerando que Scheinkman é um acadêmico inteligente, liberal e muito bem conceituado no mundo e que não se sujeitaria à heterodoxia econômica a que, eventualmente, Ciro Gomes pudesse vir a promover. "Ciro vem prometendo reforma tributária e previdenciária em apenas oito meses de governo, o que é inexeqüível. E o Scheinkman já chega mostrando que, com ele, não as coisas não são bem assim", diz Costa Rego, acrescentando que o mercado está se apegando ao fato de que com Scheinkman, Ciro Gomes terá que mudar o tom de seus discursos.

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