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Novo ministro da Agricultura da União Europeia preocupa Mercosul

Irlandês Phil Hogan já deixou claro que sua prioridade é 'o bem-estar dos fazendeiros' europeus; escolha dificulta acordo comercial entre Europa e Mercosul

Por JAMIL CHADE
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GENEBRA - A Europa deu a chave dos subsídios agrícolas ao país mais protecionista do bloco, a Irlanda. Ontem, a Comissão Europeia anunciou seu novo governo, com 28 ministros, comandados por Jean-Claude Juncker, o novo presidente do bloco. Para cuidar de Agricultura, o escolhido foi o político irlandês Phil Hogan. A escolha deixou as diplomacias do Mercosul preocupadas, já que o histórico da Irlanda é o de questionar qualquer tentativa da Europa de abrir mercados às exportações agrícolas do Cone Sul. União Europeia e Mercosul negociam há mais de dez anos um acordo comercial. Mas é justamente o capítulo agrícola que vem impedindo a conclusão no processo. A Irlanda, além de rejeitar abertura de mercados nesse setor, insiste em manter subsídios e, há poucos anos, liderou uma campanha contra a carne brasileira. Hogan já deixou claro que sua prioridade será o bem-estar dos fazendeiros europeus e, em seu projeto de governo, não fez nenhuma referência a reforma de subsídios ou abertura de mercado. "Fazendeiros enfrentam muitos desafios, entre eles a segurança alimentar, preservar o meio ambiente e proteger as zonas rurais, mas também mudanças climáticas e a necessidade de garantir um padrão de vida justo e estável", disse Hogan, cuja pasta vai controlar 40% do orçamento da UE, de cerca de 60 bilhões. Segundo ele, o setor representa 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco. O setor agrícola da Irlanda comemorou a nomeação. O presidente da Associação dos Produtores Lácteos da Irlanda, Seamus Troy, foi um dos que saíram em sua defesa. "Fazendeiros irlandeses esperam que essa nomeação permita que os desafios que enfrenta a agricultura da Europa sejam confrontados", declarou. Já o presidente da Federação de Agricultores da Irlanda, Eddie Downey, espera que, a partir de agora, o setor possa agir para influenciar na formulação de novas políticas que possam deixar "um impacto positivo para as famílias de fazendeiros da Europa e da Irlanda". Divisão de poder. Num esforço para fortalecer o comando do bloco, Jean-Claude Juncker deu para o Reino Unido e para a França alguns dos cargos de maior poder dentro da Europa e nomeou um ministério repleto de ex-primeiros-ministros e chefes de Estado. Na esperança de frear uma saída de Londres dos acordos europeus, Juncker indicou o britânico Jonathan Hill para ser o responsável pelos bancos e todo o mercado de capitais. "Essa é uma grande notícia, já que 40% dos serviços financeiros da Europa estão no Reino Unido", declarou o primeiro-ministro David Cameron. A nomeação de Hill também agradou a City de Londres. Juncker não hesitou em apontar que sua escolha tinha como objetivo manter Londres no bloco. "O papel do Reino Unido na UE é muito importante. Eu quero o Reino Unido como um membro ativo e não que deixe a Europa. Por isso decidi dar uma pasta importante para Hill." A nomeação foi vista como forma de manter o Reino Unido na UE, já que Londres prepara para 2017 um referendo popular sobre a permanência do país no bloco europeu. Já o comissário de Economia da UE será o francês Pierre Moscovici, apoiado pelo presidente François Hollande e defensor de aumento nos gastos públicos para que a zona do euro saia da estagnação. A escolha do francês é uma tentativa de agradar ao setor que alega que o bloco está estagnado por causa de políticas que se concentraram apenas em reduzir o déficit fiscal, sem dar atenção aos incentivos para o crescimento. A perdedora foi a chanceler alemã Angela Merkel, que viu seu indicado, Gunther Oettinger, ir para a pasta de Energia.

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