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Novo plano de energia pode criar subsídio cruzado

Por Agencia Estado
Atualização:

A adoção das 18 medidas propostas semana passada para modificar o modelo elétrico brasileiro poderá criar mais uma espécie de subsídio cruzado dentro do setor, avaliam especialistas da área. Para evitar uma explosão tarifária, o preço menor da energia velha, gerada principalmente pelas usinas estatais já amortizadas, terá de compensar o alto custo da eletricidade produzida pelas novas usinas privadas, de forma a obter uma média ponderada para o consumidor final, explica o professor da Universidade de São Paulo (USP), Ildo Sauer. Em outras palavras, será criado um mix entre a energia nova, mais cara, e a energia velha, mais barata - controlada pelo governo. Assim, o novo plano criaria dois mercados distintos. Um estatal, responsável por 80% do abastecimento do País, com preços regulamentados, e outro privado, com tarifas praticamente liberadas. Esse foi o caminho encontrado pelo Estado para atrair o investimento privado e ao mesmo tempo evitar o risco da explosão tarifária a partir de 2003, quando os contratos de venda de energia entre distribuidoras e geradoras começam a ser liberados progressivamente, 25% ao ano, explica o analista da Corretora Unibanco, Sérgio Tamashiro. Regulamentando o preço da energia velha, o governo evita que as empresas aumentem a sua tarifa até se igualar ao preço da energia nova, o que provocaria a explosão de preços. Por outro lado, o sistema continua necessitando de expansão. E seria exatamente a fatia de mercado livre, responsável por cerca de 20% da geração do País, o grande atrativo para o investidor privado. Investimentos - O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Sérgio Galdieri, acredita que o plano alçançará seus objetivos, pois o mix proposto será interessante para o setor. Além disso, completa, a geração estatal não será suficiente para abastecer o País daqui para frente. "Assim, o porcentual de mercado livre aumentará, atraindo novos investidores." A questão é que os empreendedores não estão tão confiantes com as mudanças. Sauer, da USP, explica que, como o fim do mandato do atual governo está próximo, ninguém sabe o que pode vir pela frente. "Isso pode comprometer os objetivos desse novo plano", contrapõe. Outro que ainda tem dúvidas quanto ao sucesso da revitalização do modelo é o também professor da USP e ex-integrante do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), José Goldemberg. Embora acredite que seja possível manter um sistema híbrido, ele afirma que esse tipo de modelo proposto pelo governo não se sustenta por muito tempo. Isso porque a geração está quase toda nas mãos do Estado. Ao menos no princípio, quem parece que perderá menos é o consumidor final, já que o risco de aumento excessivo de tarifas estará afastado com o mix dos preços da energia nova e velha, argumenta Goldemberg. Para Galdieri, quem perderá serão os idealizadores de um mercado livre e especulativo. "Mas, para os empreendedores em geral, haverá boas possibilidades de investimentos." Sua convicção é tamanha que as previsões de faturamento em 2002 para a indústria elétrica e eletrônica - que fornece equipamentos para geração, distribuição e transmissão - subiram cerca de 35%, de R$ 4,8 bilhões para R$ 6,5 bilhões. Mesmo assim, os especialistas ainda consideram prematuro avaliar quem vai ganhar ou perder com as mudanças. Esse tipo de avaliação somente seria possível a partir do detalhamento das 18 medidas propostas, previsto para o dia 22. Segundo o titular-adjunto do Departamento de Infra-estrutura (Deinfra) da Fiesp, Pedro Andrea Krepel, enquanto não ficar definido como essas mudanças serão estabelecidas, fica difícil analisar os pontos positivos e negativos. "Preferiríamos que toda sociedade saísse ganhando."

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