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Novo presidente da Eletrobrás: nome de mercado ou mais um militar?

Wilson Ferreira Júnior vai deixar o comando da estatal nos próximos dias e o nome do seu sucessor ainda não foi anunciado

Por Luciana Collet (Broadcast)
Atualização:

Encerra-se nos próximos dias a gestão de Wilson Ferreira Júnior à frente da Eletrobrás. A previsão é que seu último dia no comando da estatal seja em 15 de março, quando o executivo deve apresentar a analistas e investidores os resultados do exercício de 2020. Seu ciclo terminaria na última sexta-feira, 5, segundo o anúncio oficial de sua demissão, mas ele decidiu permanecer no cargo até a conclusão dos trabalhos relativos às demonstrações financeiras. Os números serão apresentadas na sexta-feira, 12, com detalhamento em teleconferência na segunda-feira seguinte, 15.

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O nome do sucessor de Ferreira Júnior ainda não foi anunciado e as apostas se dividem entre aqueles que consideram mais provável uma solução de mercado e os que avaliam que a saída será por um nome de influência mais direta do presidente Jair Bolsonaro.

A segunda opção ganhou força depois que Bolsonaro afirmou que iria "meter o dedo na energia elétrica" e prometeu mais mudanças após a indicação do general Joaquim Silva e Luna para os cargos de conselheiro e presidente da Petrobrás.

Nessa frente, uma alternativa bastante ventilada desde o anúncio da demissão de Ferreira Junior foi a do atual presidente do conselho da companhia, Ruy Schneider, oficial da reserva da Marinha. Ele, no entanto, foi nomeado como coordenador da Comissão Temporária de Apoio ao Processo de Sucessão do Presidente da Eletrobrás, além de ter uma outra restrição: já ultrapassou a idade limite de 75 anos definida nas políticas do grupo para a presidência da estatal.

O presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, que vai deixar o cargo nos próximos dias. Foto: Fábio Motta/Estadão

Por outro lado, justamente pelo mal estar causado no mercado financeiro após o anúncio de Silva e Luna para o comando da Petrobrás, com o desgaste gerado e a perda de valor da estatal, também avançou a percepção de que haveria agora a intenção por parte do governo federal de garantir um nome de peso e com experiência comprovada no setor elétrico para liderar a estatal.

"O governo vai tentar diminuir ao máximo o desgaste para que não tenha o mesmo efeito de gerar perda de valor que houve na Eletrobrás", disse uma fonte com conhecimento do assunto.

Um nome de experiência do setor também reforçaria o discurso do governo de que a privatização da Eletrobrás segue sendo uma prioridade. Isso porque o pedido de demissão de Ferreira Junior foi interpretado por analistas de mercado e profissionais do setor elétrico como uma demonstração de que esse processo não iria avançar.

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 O executivo chegou à estatal em 2016, com a missão de "arrumar a casa", tendo em vista os sucessivos prejuízos acumulados, e logo se envolveu nas discussões sobre a privatização, inicialmente proposta durante o governo Michel Temer. Com a transição para o governo Bolsonaro, Ferreira Junior chegou a declarar que ficaria no cargo apenas se fosse para seguir no plano de privatização, e de fato permaneceu, mas o processo pouco avançou.

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Após o anúncio da demissão, o presidente Bolsonaro foi pessoalmente ao Congresso Nacional levar uma medida provisória que estabelece as bases para a privatização. Em linhas gerais, o texto é o mesmo que o apresentando por meio de projeto de lei pelo próprio governo, que propõe uma capitalização da companhia, com emissão de novas ações e diluição da participação estatal. Mas foram feitos alguns ajustes para atender a demandas de parlamentares, como a criação de fundos regionais para revitalização de bacias e o estabelecimento de uma golden share, dando poderes de veto à União para algumas questões estratégicas.

Se o texto avançar o Congresso, o processo exigirá do futuro presidente da Eletrobrás algumas movimentações da companhia, com a cisão da Eletronuclear e Itaipu Binacional, entre outras operações viabilizando a planejada capitalização.

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No caso de uma solução de mercado, estariam no páreo, além de nomes internos da companhia, também executivos que têm sido contatados pela consultoria organizacional Korn Ferry, contratada para o trabalho de seleção, iniciado em meados de fevereiro.

O trabalho da consultoria está sendo monitorado de perto pela comissão temporária criada pelo conselho de administração da Eletrobrás e da qual também fazer parte, além de Schneider, Ferreira Junior, Lúcia Casasanta, Marcelo de Siqueira Freitas e Mauro Cunha, todos conselheiros da companhia indicados pelo acionista controlador.

Para a diretora geral da consultoria de gestão de riscos Kroll no Brasil, Fernanda Barroso, os conselheiros devem buscar usar a Lei das Estatais para reduzir a ingerência política. "A pessoa que tem que ser escolhida para substituir o Wilson tem que ser alguém que, pela lei, tenha conhecimento naquela área específica e que já tenha atuado no mesmo setor, em cargos executivos", disse, referindo-se à lei, como também ao estatuto da companhia, que reflete a legislação. "Não adianta o candidato ter experiência de gestão em diversos outros lugares, porque está claro na lei que tem de ser na área de atuação do negócio e com senioridade compatível com o cargo", completou.

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 egundo Barroso, mesmo que o conselho da Eletrobrás - bem como da comissão interna formada para ajudar na decisão - seja formado preponderantemente por membros indicados pelo controlador, a União, eles tem que ser "independentes" e votar pelo que é melhor para a empresa, segundo as melhores práticas de governança.

Para ela o processo da Eletrobrás, assim como aquele em andamento na Petrobrás, serão "teste de fogo para a Lei das Estatais". "Porque é uma lei nova e é nesse tipo de situação que vamos ver se ela funciona, ou não, se foi feita para funcionar ou não", disse.

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