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Novo subsídio agrícola da UE causa reação mundial

Europeus anunciam socorro aos produtores de leite e manteiga para compensar queda do preço em 2008

Por Jamil Chade e Genebra
Atualização:

A União Europeia (UE) decidiu ontem voltar a subsidiar os seus produtores agrícolas. Brasil e outros governos já estudam formas de reagir. O novo governo americano lamentou a iniciativa. Para a Oxfam, organização não governamental contra a pobreza, a UE pode ter dado início a uma verdadeira guerra comercial, em meio a maior recessão mundial em décadas. A decisão foi dar subsídios aos produtores de manteiga e leite. O caso pode parecer pontual, mas a diplomacia brasileira e de outros países já vê a situação como um sinal negativo. O Brasil não exporta nenhum dos dois produtos. Mas, para o Itamaraty, a medida mostra que novas distorções podem surgir no mercado internacional diante da crise. "O caso é emblemático", alertou um diplomata brasileiro. Produtores do Mercosul ainda temem que o leite subsidiado acabe entrando com um preço mais competitivo no mercado da região, diante dos subsídios. A UE vai, artificialmente, manter os preços altos desses dois produtos nos próximos meses. Para isso, os 27 países europeus vão comprar 139 mil toneladas de produtos lácteos, com custos de US$ 327 milhões. Entre março e agosto, a UE comprará 30 mil toneladas de manteiga e 109 mil toneladas de leite em pó. Tudo para ajudar a indústria europeia. O que mais preocupa é que a UE abandonou compromissos internacionais. Em 2007, a UE decidiu acabar com esses subsídios a exportação e, em 2008, a Comissão Europeia (CE) chegou a sugerir a sua eliminação, mas França e Alemanha se opuseram. Em Bruxelas, diplomatas tentaram amenizar as críticas, garantindo que a medida é temporária, para compensar a queda de 33% nos preços do leite em 2008. Mas críticos alertam que as velhas montanhas de manteiga vão ser refeitas, com produtores fabricando muito mais que a demanda e vendas garantidas pelo governo, que as destruirá. Os preços serão inflados artificialmente e afetam a concorrência externa. "Não vamos voltar aos velhos dias de ter montanhas de manteiga e lagos de leite. Essa é uma situação temporária de crise no mercado", afirmou a CE. Em Genebra, os países exportadores de produtos agrícolas, conhecidos como Grupo de Cairns, estuda tomar medidas e publicar uma queixa formal. O Brasil, segundo o Itamaraty, deve fazer parte da declaração. Na Organização Mundial do Comércio (OMC), a medida foi vista como sinal negativo. A pedido do Brasil, a entidade quer acompanhar todas as decisões comerciais durante a crise para tentar evitar nova onda de protecionismo. O chanceler Celso Amorim ainda tratará do tema no Fórum Econômico de Davos, na semana que vem. Pascal Lamy, diretor da OMC, vem alertando que um dos perigos da crise é a volta de barreiras. Nos anos 30, após a quebra das bolsas de 1929, o governo americano aumentou as tarifas de importação para cerca de 10 mil produtos. O resultado, segundo Lamy, foi um aprofundamento da crise.

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