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Nubank reduz preço de ação para viabilizar abertura de capital na Bolsa de Nova York

Banco digital brasileiro reduziu preço-alvo de seus papéis do intervalo de US$ 10 a US$ 11 para algo entre US$ 8 e US$ 9; agora, arrecadação esperada é de US$ 2,8 bilhões

Foto do author Altamiro Silva Junior
Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Matheus Piovesana
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast), Fernanda Guimarães e Matheus Piovesana (Broadcast)
Atualização:

Nem o celebrado Nubank conseguiu sobreviver à desconfiança do mercado financeiro em relação ao Brasil e às fintechs. O banco digital brasileiro teve de reduzir o preço-alvo de suas ações de um intervalo entre US$ 10 e US$ 11 para algo entre US$ 8 e US$ 9, na tentativa de viabilizar sua abertura de capital na semana que vem, na Bolsa de Nova York (Nyse).

A fintech, fundada em 2013 pelo colombiano David Vélez, a brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible, agora prevê arrecadar US$ 2,8 bilhões com sua estreia na Nyse (haverá, simultaneamente, papéis negociados também na B3, a Bolsa paulista, direcionada especialmente a clientes pessoa física do banco). Anteriormente, a ideia do Nubank era arrecadar até US$ 4 bilhões.

Nubank;avaliação do Nubank já vinha sendo questionado por analistas de mercado Foto: Paulo Whitaker/Reuters

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O banco também anunciou, ontem, que fundos de investimento já concordaram em ancorar a operação, com uma demanda de US$ 1,3 bilhão. Essa busca por investidores “âncora” para garantir a viabilidade do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) já vinha sendo ventilada ao mercado financeiro desde a semana passada, segundo o apurou o Estadão/Broadcast.

A avaliação do Nubank já vinha sendo questionado por analistas de mercado. O banco digital tentava ser avaliado em US$ 70 bilhões, mais que Bradesco e Itaú Unibanco somados, valor depois reduzido a cerca de US$ 50 bilhões. Agora, segundo informações de mercado, o valor total da instituição deve ficar em cerca de US$ 41,7 bilhões. 

Contexto ruim para as fintechs

Desde que a oferta foi oficialmente lançada, as condições de mercado ficaram consideravelmente menos favoráveis para fintechs e empresas de tecnologia. No período, a indiana Paytm captou US$ 2,5 bilhões em uma abertura de capital na Bolsa da Índia, e viu seus papéis derreterem nos dias seguintes. A brasileira Stone, listada na Nasdaq e que vem de dois resultados que decepcionaram analistas, cai 80% no ano, e 52% apenas em novembro.

Há algumas explicações para o ambiente menos favorável. A primeira, macroeconômica, é a perspectiva de alta dos juros nos principais mercados globais, inclusive nos Estados Unidos. Com o dinheiro mais caro, empresas que precisam buscar recursos com frequência para manter seu crescimento tendem a ter os modelos de negócio colocados em xeque, em movimento já visto no começo do século, no estouro da bolha das pontocom.

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Também existem dúvidas sobre os modelos de concessão de crédito de bancos digitais e fintechs. No caso do Nubank, a inadimplência de seu principal produto, o cartão de crédito, é de 3,3%, abaixo da média nacional (4,8%). Mas problemas como os da concorrente Stone com financiamentos acenderam um alerta junto a investidores, analistas e gestores. Tudo isso em um momento de temores com os estragos que a variante ômicron do coronavírus pode causar na economia global.

Supervalorizado

Nas últimas semanas, muitas casas de análise se debruçaram sobre os dados do Nubank e chegaram à conclusão de que o preço pedido pela fintech por suas ações estava alto demais. Mesmo com o alto crescimento das receitas e da base de clientes, a percepção foi de que por ainda dar prejuízo (de US$ 99 milhões de janeiro a setembro), o Nubank tende a sofrer mais em um ambiente de alta de juros.

A Suno Research, por exemplo, considerou que mesmo com preços menores, em termos relativos, que os de outras fintechs internacionais, o Nubank estava caro. "O Nubank apresenta uma precificação em linha com o que o mercado internacional está pagando aos maiores bancos digitais, mas não é porque o mercado está pagando que nós iremos pagar", afirmou a Suno.

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A Nord chegou a uma conclusão parecida, e afirmou que investir na XP ou no BTG Pactual, que já são listados e têm lucros altos, é mais negócio para quem quer se beneficiar da maior competição no setor financeiro do País. Para justificar o antigo valor, a casa calculou que a fintech teria de lucrar US$ 3,3 bilhões, número alto até mesmo para grandes bancos locais.

Outros gestores consultados pelo Broadcast nos últimos dias fizeram afirmações muito semelhantes: para uma empresa que ainda não dá lucro, os valores estabelecidos inicialmente eram altos demais. "Pelas métricas tradicionais, está muito caro. Mesmo comparando com o Mercado Livre (referência em Nova York para empresas de tecnologia da América Latina), o preço está alto", disse um deles.

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