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Número de ‘investidores mirins’ em corretoras e na Bolsa dispara no País

Em um ano, total de pessoas de até 15 anos na B3 dobrou, enquanto contas de menores de idade na XP cresceram 370% em 2 anos; para especialista, pais devem usar reserva para ensinar conceitos como definir prioridades e esperar resultados

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Por Fernando Scheller
Atualização:

Mateus Soares está guardando dinheiro para a aposentadoria. Todos os dias, ele gasta duas horas lendo notícias sobre empresas e livros sobre a mecânica do mercado financeiro. Tudo isso para pautar as decisões que ele tomará ao investir na Bolsa para, quem sabe, não precisar depender do benefício do INSS na velhice. Esse seria um perfil comum de investidor cuidadoso, não fosse por um fator: Mateus tem 15 anos.

Mateus Soares, de 15 anos, dedica 1 hora por dia para ler sobre economia e acompanha a movimentação da Bolsa pelo Home Broker Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

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O estudante do ensino médio faz parte de uma tendência que ganha cada vez mais força no País: a abertura de contas em corretoras e na Bolsa por “investidores mirins”, de idade a partir de 6 anos. No grupo XP, que concentra também corretoras como a Rico e a Clear, o total de investidores de até 18 anos saltou 370% nos últimos dois anos. Nos 12 meses encerrados em setembro, o número de contas de pessoas de até 15 anos na B3 mais do que dobrou, passando de 12 mil.

Para Bettina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos, trata-se de uma evolução da antiga caderneta de poupança – com a diferença de que os pequenos, agora, podem assumir o controle da própria vida financeira: “Muitos pais usam essas contas como uma forma de planejamento financeiro para o filho. E também é uma forma de ensinar à criança sobre dinheiro, de trabalhar conceitos como a ideia de definir prioridades e esperar (resultados).” 

Nesse grupo de crianças e adolescentes com apetite de investidor “gente grande”, há diferentes perfis. Mateus, por exemplo, usa o dinheirinho que ganha com pequenos trabalhos – e aporta cuidadosamente cerca de R$ 120 por mês ao seu colchão de dinheiro. “Acho que investir é para todos e não precisa de grande valor. Eu faço isso pensando no longo prazo”, conta.

Já a família Collina, de São Paulo, usa o investimento como uma forma de garantir que os dois filhos – Leonardo, de 6 anos, e Guilherme, de 3 – tenham uma reserva financeira quando completarem 18 anos. O engenheiro João Paulo da Collina e a psicóloga Aline abriram uma conta no nome do primogênito, mas já explicaram a Leonardo que o dinheiro deve ser dividido entre os irmãos.

Na carteira de investimentos de Leonardo estão papéis como o da Ambev e também administradoras de shopping centers. “Quando a gente foi a um shopping, eu expliquei a ele que ele era dono de um pedacinho daquilo. E, quando ele está tomando o guaraná de que gosta, eu falo sobre a ação da Ambev”, explica o engenheiro. Aline e João Paulo esperam que, quando chegar a hora de sacar o dinheiro, os filhos invistam na própria formação. “Educação é o melhor investimento”, dizem.

Em uma categoria própria entre os investidores mirins está Felipe Molero, de 12 anos, mais conhecido no mundo das finanças como “Kid Investor”. Ele abriu um canal de investimentos no YouTube no último mês de abril que já contabiliza mais de 75 mil inscritos, no site de vídeos e no Instagram (leia aqui o perfil).

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Vontade x meta

Coordenador de educação financeira da XP, Thiago Godoy acredita que existe espaço para ampliar o debate positivo sobre dinheiro no Brasil – e mostrar às crianças que não há nada de errado investir bem o que foi ganho honestamente. Mas, mais importante do que isso, saber lidar com dinheiro pode ser uma forma de se ensinar às crianças valores que podem acompanhá-las pelo resto da vida. Uma das principais, explica o especialista, é deixar clara a “diferença entre necessidade e desejo”.

Antes de entrar na XP, Godoy fez parte de diversos programas de educação financeira tanto do governo federal quanto de organismos internacionais. “O que as pesquisas mostram é que a educação financeira faz diferença na vida adulta”, explica. E ele ressalta que a chave para o aprendizado não está no volume de dinheiro. “É importante promover hábitos, ensinar a cultura da prevenção e a noção de que a independência financeira é conquistada no longo prazo.”