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''Nunca vi os preços aumentarem tanto''

Por Angela Lacerda e RECIFE
Atualização:

A dona de casa Antonia Pereira da Silva, de 40 anos, está com medo da inflação. "Nunca vi os preços aumentarem tanto", diz ela, enquanto faz compras em um pequeno supermercado no bairro de San Martin, zona oeste do Recife, onde mora. Sem entender a razão da alta dos preços, ela se esforça para não perder o controle das finanças. "Peço para o presidente para não matar os pobres de fome, fazia tempo que não tinha inflação". Antonia reduziu o consumo de feijão, arroz e carne. Tem dia que faz cuscuz (de farinha de milho) com ovo para o almoço da família. Roupa e sapato, nem pensar. Até o batom que adora, que custa R$ 5,80, ela tem se privado. "Tudo pesa", diz, ao lembrar que recebeu o aviso do bloqueio do telefone da casa, há dois meses sem pagar. Antonia diz fazer mágica para dar conta das necessidades da família. O marido ganha um salário mínimo como vigilante de uma escola, a filha de 19 anos é mãe solteira de uma menina de dois anos, o filho casou com uma moça que já era mãe de duas crianças e está desempregado. Ela consegue R$ 80 mensais com faxina e a netinha recebe uma pensão mensal do pai, de R$ 150. Nada pode faltar à menina, que ela diz ter assumido como se mãe fosse - o iogurte, o leite, a massa, que compra sempre em promoções ou adquirindo marcas mais baratas. Apesar do cuidado com os gastos, no mês passado Antonia passou noites em claro. Extrapolou os gastos com o cartão de crédito de uma cunhada. Fez uma "compra grande" para o mês, de pouco mais de R$ 280, divididos em três vezes sem juros. Percebeu depois que não conseguiria pagar a primeira parcela, que vencia em maio. A mãe, que também vive apertada, lhe emprestou o dinheiro, proporcionando alívio momentâneo. "Ainda tem mais duas". Joel Cavalcanti, gerente do supermercado onde Antonia é cliente, diz que este mês as vendas caíram 1,5% em relação ao ano passado. "É a primeira queda, e isso apesar das constantes promoções que fazemos." Segundo o presidente da Associação Pernambucana de Supermercados, Geraldo José da Silva, "a política de promoções é adotada para o cliente não nos repassar a culpa pela alta de preços.

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