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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O balanço do PIB

Mercado esperava queda muito pior, aliviada pela distribuição do auxílio emergencial à população

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Atualização:

Como o tombo do PIB no segundo trimestre foi o maior de que se tem notícia, convém fazer um balanço dos recados que esses números estão passando a todos nós.

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1. A queda foi de 9,7% sobre o primeiro trimestre deste ano, que já havia recuado outros 2,5% sobre o trimestre anterior. É a maior num único trimestre desde 1949, quando as Contas Nacionais começaram a ser medidas no Brasil, pela Fundação Getúlio Vargas (agora pelo IBGE). Maior até do que a ocorrida no período 1918 a 1920, durante a gripe espanhola, quando as estatísticas eram precárias

2. Como de amplo conhecimento, a principal causa desse desastre foi o impacto produzido pela pandemia, que obrigou todos a se entocarem, derrubou o consumo e, com algumas exceções, reduziu toda a atividade produtiva e, com ela, a renda dos brasileiros.

3. Apesar dos números pesados, o mercado respirou aliviado, porque esperava resultado pior. Esperava uma queda mais próxima dos 15%. Em parte, o estrago só não foi maior graças à política de rendas, que distribuiu o auxílio de emergência à população carente.

4. Os setores que mais foram beneficiados por esse bote salva-vidas foram os serviços (mais de 73% do PIB) e o do consumo de alimentos.

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5. No mundo, a recessão foi geral. A única economia que conseguiu crescer no período foi a China (+ 11,5%).

6. No Brasil, o único setor que continua se saindo bem é o agropecuário, que avançou 0,4% entre trimestres. Na ótica da demanda, as exportações também aproveitaram o bom momento do agro, os bons preços externos dos alimentos e a puxada nas cotações da moeda estrangeira.

Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo e a preservação da Amazônia é motivo de justa preocupação. Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

7. O investimento (Formação Bruta de Capital Fixo) também veio abaixo: nada menos que 15,4% e, no trimestre, ficou nos 15,0% do PIB (veja gráfico). Está muito abaixo dos 22% do PIB necessários para garantir um crescimento consistente de 3% ao ano.

8. A pandemia atrapalhou também o levantamento das estatísticas pelo IBGE, na medida em que impediu os técnicos de saírem a campo e muito teve de ser medido e calculado em regime de home office. Por isso, espera-se, também, que a revisão dos números agora divulgados altere certos resultados.

9. Números do PIB melhores do que os esperados levam as instituições que projetam o comportamento da economia a anunciar revisões também nos seus resultados para todo o ano de 2020. Já ninguém mais aposta em recuo do PIB do Brasil da ordem de 6,5% ou 6,0%, como há alguns meses. As novas projeções se situam ao redor dos 5,0%. Mas algumas instituições de peso, como o Grupo Itaú Unibanco, passaram a trabalhar com queda não superior a 4,5%.

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10. Portanto, estão abertas as apostas em torno da velocidade e da qualidade da recuperação. Certo número de analistas segue o ministro da Economia, Paulo Guedes. Entende que está em curso uma vigorosa recuperação em “V” e que, em alguns meses, a economia brasileira terá tirado boa parte do atraso. Como são muitas as incertezas pela frente, é mais provável que seja uma recuperação em “ww”(com dáblios minúsculos), ou, quem sabe, em “Ww”. Entre essas incertezas estão o comportamento do consumo, agora mais dependente do auxílio emergencial, o desemprego, a situação calamitosa das contas públicas e os mais baixos do que altos níveis do jogo político, agora em tempo de eleições.

11. O fator que pode alterar as pernas desses “ww” ou “Ww” é a vacina. A China, por exemplo, anuncia que, a partir de outubro, começará a imunizar sua população, de 1,2 bilhão de pessoas e ainda exportará a vacina para demais interessados. Se isso for confirmado, o impacto não se limitará à economia mundial – uma vez que a China aumentará suas encomendas de matérias-primas e alimentos ao resto do mundo –, mas também à geopolítica, na medida em que aumentará a importância do país no jogo global, num período de escolha do novo presidente dos Estados Unidos.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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