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O Banco Central critica veladamente a política econômica

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Por Redação
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Pela leitura do Relatório de Inflação, do Comitê de Política Monetária (Copom), ele poderia ser visto como uma crítica à ação do governo no que diz respeito à avaliação dos riscos. Mas mostra-se mais otimista do que o governo quando prevê inflação de 4,4% neste ano, que aumentaria para 4,9% em 2013.O documento parte de hipóteses que são certamente sujeitas a dúvidas. Exemplos: a manutenção do preço da gasolina e do botijão de gás; a manutenção do superávit primário de 2011; o cenário internacional de crescimento medíocre nas economias maduras; a estabilidade de preços das commodities; a relativa estabilidade da taxa cambial; a redução, confirmada, da taxa Selic para 9%; e o viés deflacionário no cenário mundial, o que é favorável ao Brasil.No entanto, o texto dá bastante espaço aos riscos que poderiam afetar as previsões e que, curiosamente, representam críticas indiretas à atuação recente do governo na política econômica.O maior risco que o relatório reconhece vem do mercado do trabalho, por causa das negociações salariais, que atribuem peso excessivo à inflação passada, em detrimento da previsão de inflação. E ele já admite, também, que o aumento recente do salário mínimo tem impacto sobre a dinâmica dos outros salários. Como há pouca ociosidade de mão de obra e também falta de trabalhadores especializados, isso favorece a concessão de aumentos salariais acima da melhoria da produtividade.Embora os últimos dados divulgados mostrem que o descompasso entre a evolução da demanda e da oferta esteja crescendo, o relatório considera que esse descompasso é decrescente. E parece considerar que a expansão da oferta de crédito tem alguma responsabilidade no aumento da demanda - justamente no dia seguinte em que o ministro da Fazenda, em encontro com banqueiros privados, lhes pedia para aumentar a oferta de crédito, e, aos bancos públicos, que reduzissem mais suas taxas de juros.O relatório lembra que algumas medidas da política monetária que têm um efeito atrasado poderão alimentar as expectativas dos agentes econômicos, o que pode ser considerado como uma crítica à antiga diretoria do Banco Central.Embora elogie a política fiscal, o Relatório de Inflação anota a falta de moderação na concessão de subsídios, que podem comprometer o cumprimento da meta de superávit primário.Como se vê, o Banco Central, dentro de elevado espírito de colaboração, exibe delicadas críticas à condução da política econômica.

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