Publicidade

O Banco Central paga para ver

Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Ao elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto porcentual, o Banco Central (BC) reafirma sua aposta em um novo jeito de conduzir a política monetária. E, novamente, contraria uma parte do mercado, que defende uma política monetária mais agressiva, menos gradualista e concentrada nos juros, com o objetivo de fazer a inflação convergir, como no passado recente, para o centro da meta, no menor prazo possível, com consequências sobre o crescimento. Como já ocorrera às vésperas de outras reuniões mais recentes do Comitê de Política Monetária (Copom), os operadores de mesa mostraram-se mais antenados com essa nova lógica do BC do que os economistas/analistas. Conforme vinham apontando os contratos futuros de juros, os operadores esperavam alta de 0,25 ponto porcentual, enquanto a segunda turma, na maioria dos casos, apostava numa mexida de 0,5 ponto porcentual. O principal problema da estratégia convencional de política monetária neste momento é o efeito colateral que um choque nos juros teria sobre a taxa de câmbio. É inegável que a enorme diferença entre os juros internos e externos é um dos fatores que pressionam o real para baixo. Uma Selic mais alta inevitavelmente aprofundaria essa tendência. Bom para o controle da inflação, nada bom para diversas cadeias de produção domésticas.Além disso, os indicadores econômicos, na quadra atual, têm mostrado sinais sem direção definida no Brasil. Parte aponta para a manutenção de uma economia aquecida, parte já indica alguma desaceleração. Assim, por esse raciocínio, o cenário ainda incerto justificaria atitude mais prudente da autoridade monetária. Mas ainda é uma minoria no mercado que considera aceitável pagar para ver, como está fazendo o BC. Antes, o Copom subia os juros ao menor sinal dos preços - e chegou a pecar por excesso. Hoje, parece preferir "comprar" o risco de errar por falta. A decisão de ontem, que não foi unânime, reafirma essa nova aposta.É COLUNISTA DO "ESTADO"

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.