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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O Banco Central sob pressão

A pergunta que ficou sem resposta na semana passada terá de ser respondida nesta quarta-feira pela reunião do Copom: há disposição para puxar pelos juros?

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Há momentos, como os das últimas semanas, em que a turbulência que toma os mercados não é apenas consequência de fatores negativos da economia e da política. Ela própria se torna fator multiplicador de turbulência. E o Brasil vai pagando pelas suas mazelas.

Moeda americana terminou a semana cotada a R$3,73, depois de muita oscilação. Foto: Fabio Motta/Estadão

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Uma das fontes de turbulência é a retirada de moeda dos mercados (alta de juros) pelos grandes bancos centrais com o objetivo de reverter as enormes emissões que começaram em 2008. Como avaliado aqui na Coluna de quinta-feira, uma consequência é a valorização do dólar nos mercados de câmbio e, com isso, a fuga dos investidores das aplicações de risco para as que pagam mais juros em dólares.

Na última sexta-feira sobreveio uma segunda fonte de turbulências, o anúncio de Trump da taxação em 25% de US$ 50 bilhões em importações provenientes da China. Não é mais a vaga acusação de que a China joga sujo no seu comércio porque exporta produtos fabricados com mão de obra subassalariada, mas a de que “rouba propriedade intelectual e tecnologia de ponta”. Como a China promete retaliações e os Estados Unidos ameaçam com novas punições tarifárias se isso acontecer, não há muito como discordar de que está em curso uma guerra comercial cujo alcance, duração e consequências não podem ser claramente avaliados.

A economia do Brasil está muito vulnerável às turbulências, como mostra o comportamento dos mercados de juros futuros, câmbio e Bolsa (veja os gráficos). Além de carregar enorme rombo fiscal sem nenhuma garantia de cobertura, ainda está exposta às incertezas eleitorais cujo maior risco é instalar em Brasília a partir de 2019 um governo populista que aprofunde ainda mais os problemas.

Por enquanto, o Banco Central enfrenta a corrida interna em direção ao dólar com intervenções diárias no mercado. Gastou US$ 24,5 bilhões em swaps (títulos em reais que pagam variação cambial) apenas na semana passada e já reservou outros US$ 10 bilhões para a semana que vem aí. Além disso, acena com “leilões de linha” e com desova de dólares “físicos” das reservas técnicas que, no momento, estão em US$ 380 bilhões, ou 28 meses de importação.

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O objetivo declarado do Banco Central com as intervenções é apenas evitar excesso de volatilidade no mercado. Mas parece claro que, no seu entendimento, cotações do dólar que ultrapassam os R$ 3,70 não são desejáveis. Se não por outras razões, pelo menos porque produzem inflação, a começar pelo encarecimento dos importados.

Esse contra-ataque à alta excessiva do dólar é de eficácia duvidosa, pois está concentrado apenas em intervenções no câmbio, sem contrapartidas nas políticas fiscal (que cuida das contas públicas) e monetária (política de juros).

A pergunta que ficou sem resposta na semana passada terá de ser respondida nesta quarta-feira pela reunião do Copom. Consiste em saber se o Banco Central está disposto a voltar a puxar pelos juros para amortecer a pressão sobre o câmbio: juros internos mais altos devem atrair investimentos que vêm se refugiando no dólar.

Se essa pergunta fosse feita há algumas semanas (antes da greve dos caminhoneiros), a resposta certamente seria a de que a inflação está bem abaixo da meta (2,86% em 12 meses para meta de 4,5%) e que não cabe apertar a política monetária, especialmente num quadro de baixa recuperação da economia.

No entanto, durante meses seguidos, o Banco Central argumentou que tinha de agir com cautela, tendo em vista as incertezas na economia e na política. Como essas incertezas aumentaram, parece lógico que, assim, o Banco Central entenda que o uso de cautela ou de atitude equivalente tenha de ser redobrado.

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Mas, convenhamos, o problema principal da economia brasileira é a desordem das contas públicas. E, nesse campo, não se nota disposição do governo de virar o jogo.

Ou seja, em princípio, as turbulências externas tendem a continuar a açoitar a economia brasileira.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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