PUBLICIDADE

Publicidade

O BC ante a desvalorização do real

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom), ao admitir, nas duas últimas atas, que também a taxa cambial é um fator de contenção da inflação, assumiu uma nova responsabilidade: a de atuar para que a taxa de câmbio não se transforme em novo fator inflacionário e mantenha uma certa estabilidade. A desvalorização do real dos últimos dias pode ser considerada como favorável para a economia, na medida em que permite às empresas exportadoras recuperar margens de lucros, especialmente no setor agropecuário, e torna as importações menos atraentes, em detrimento da indústria nacional. Muito provavelmente essa desvalorização é de caráter apenas episódico, embora a cotação do dólar possa não retornar ao patamar anterior à crise surgida nos EUA e que, por sinal, não deveria ter afetado os fundamentos da economia brasileira. É oportuno, porém, que as autoridades monetárias observem com atenção o impacto dessa desvalorização sobre os preços internos e analisem seus efeitos mais gerais sobre a economia. Admitindo-se que o Banco Central (BC) não tenha uma meta de inflação diferente da fixada pelo Conselho Monetário Nacional, como afirmou o ministro da Fazenda, ele tem de considerar qual é a taxa cambial admissível para o conjunto da economia, levando em conta não apenas como ela influi na inflação, mas também seus efeitos positivos sobre o comércio externo do País. A exemplo de como a taxa Selic repercute sobre as taxas de juro efetivamente praticadas pelas instituições financeiras, o efeito da desvalorização cambial sobre os preços também demanda certo prazo, na medida do giro dos estoques. Mas os preços devem reagir de maneira mais rápida à flutuação do câmbio do que as instituições financeiras - que se constituem em oligopólio - reagem à queda da Selic. Caso a desvalorização do real vire tendência, caberia ao BC intervir no mercado cambial no sentido contrário do que fez nos últimos meses, isto é, ofertando divisas em vez de comprá-las. Isso exigiria que o BC estudasse qual é a taxa cambial de equilíbrio (levando em conta todo o sistema econômico e não apenas o comércio internacional), mantendo o principal instrumento de que dispõe para conter a inflação, que é a taxa básica de juros. O que se poderia sugerir, no caso da desvalorização do real se prolongar, é que o BC pelo menos se abstenha de comprar divisas a um custo muito elevado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.