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"O Brasil tem infraestrutura para escoar gás do pré-sal até 2026", diz representante de petrolíferas

O Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás aposta no surgimento de polos industriais consumidores do insumo a partir da aprovação da Lei do Gás

Por Fernanda Nunes
Atualização:

RIO - Representante das grandes empresas petrolíferas presentes no Brasil, o Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP) aposta no surgimento de polos industriais consumidores do insumo a partir da aprovação da Lei do Gás, que atuariam como âncora na abertura desse mercado. Luiz Costamilan, secretário-executivo de Gás Natural da entidade, diz ainda que grandes investidores de logística estão dispostos a colocar dinheiro na instalação de uma rede de dutos e que é possível aprovar a nova regulamentação no Senado após as eleições, possivelmente em dezembro.

O Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás aposta no surgimento de polos industriais consumidores do insumo a partir da aprovação da Lei do Gás Foto: André Valentim/Agência Petrobrás

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Leia os principais trechos da entrevista para o Estadão/Broadcast:

A aprovação da Lei do Gás é suficiente para que sejam ultrapassadas as lacunas de infraestrutura e para efetivamente abrir o mercado de gás?

Se a gente considerar os campos que já têm decisão de investimento tomada, a infraestrutura que tem disponível é suficiente para que o gás seja escoado. 40% da participação no pré-sal são de investidores privados e não da Petrobras. Em tese, esse porcentual de gás do pré-sal está na mão de empresas como Shell, Repsol, Total. Em 2021 terá a conclusão da rota 3 (rede de escoamento do gás até Itaboraí, no Rio de Janeiro), com capacidade de 20 milhões de m³/d, que somados ao produto importado da Bolívia, representam 30 milhões de m³/d de capacidade disponível para materializar o processo de abertura. No escoamento (rede de dutos entre o campo e a costa), a limitação são os novos campos que seriam desenvolvidos. Até 2025 ou 2026, o que tem de capacidade instalada atende às disponibilidades de produção dos campos existentes. O que tem que ter é a identificação de demandas âncoras. Esse é o grande desafio.

Como vai surgir essa demanda?

Existe um papel importante dos Estados, que devem estabelecer políticas públicas para atrair empresas que possam se tornar demandas-âncora. E o BNDES tem um papel fundamental para criar as condições de financiabilidade dessas empresas.

Quais segmentos poderiam desempenhar o papel de demanda-âncora?

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Penso em indústrias com consumo contínuo de gás. São projetos gás-químicos, de siderurgia, fertilizantes nitrogenados, cerâmica...

Para aumentar o consumo de fato teria que ter investimento em novas indústrias.

Sim, para ter consumo em escala. O histórico de crescimento do consumo de gás mostra que houve um salto com a instalação do gasoduto Bolívia-Brasil e depois o consumo andou de lado. Agora depende da instalação de novos complexos industriais.

É possível ter novos complexos nessa fase de crise?

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A gente imagina que a lei traga estabilidade jurídica, sinalize ao investidor que aqui vai ter gás competitivo, juntamente com políticas públicas de incentivo, e assim vamos ter competitividade. No transporte existem dois grandes investidores - a Brookfield, na NTS, e a Engie, na TAG (rede de dutos que interligam o Sudeste ao Nordeste). Eles estão doidos para investir. Não vejo limitação de recurso. O caminho está sendo trilhado. Agora vem a etapa do Senado.

A construção de novos polos industriais demanda tempo. O aumento do consumo de gás é projetado para mais à frente também?

Isso vai ter que ser uma construção efetivamente, como seriam os outros investimentos de infraestrutura a partir de 2026. O que é importante deixar claro é que não há limitação de infraestrutura neste momento para os investimentos (na produção) no pré-sal.

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O IBP fez projeção de uma possível queda de preço a partir da abertura do mercado?

Não, mas qualquer economista diria que saindo de uma situação em que há uma empresa só fornecendo para outro competitivo, cada um vai buscar o melhor preço para viabilizar o seu negócio.

O que o IBP espera da votação do Senado?

A gente espera um reconhecimento de que isso é estruturante para o Brasil, de que seria uma alavancagem pós-pandemia para a retomada da economia. A gente sabe que o projeto está maduro. A expectativa é positiva.

O instituto tem conversado com os senadores?

A gente estava até ontem conversando com os deputados e você viu o resultado. A oposição foi basicamente contra o governo. Ninguém estava avaliando se o projeto é bom ou ruim. Era uma visão ideológica. A avaliação é que o governo agiu de forma inteligente e efetiva.

Qual a expectativa de data para a lei ser sancionada?

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É um período difícil, porque teremos as eleições. O Congresso vai ficar muito mobilizado. O ideal seria que acontecesse tão cedo quanto possível. Mas essa é uma realidade. A eleição é em novembro. Teria dezembro ainda. Tem que ver como o Senado vai funcionar nesse período.

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