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O Brasil vai entrar em recessão?

Por Alberto Tamer
Atualização:

A recessão chegou à Europa e deve se confirmar nos Estados Unidos, neste trimestre. A economia mundial desacelera e afunda. E nós? Vamos entrar também em recessão?, pergunta o leitor. O ministro Guido Mantega, afirma que o mundo está em recessão, mas o Brasil, não. É apenas meia resposta, mesmo que diga que estamos fazendo tudo para sustentar o crescimento. Parece que o ministro está convencido de que não temos medo da recessão... Neste momento, tudo indica que podemos evitá-la. Estamos preparados e protegidos, o governo segue o modelo externo e deu liquidez ao sistema financeiro, mas, a essa altura, a economia não está reagindo como se esperava. Já começa a haver desemprego - o que preocupa, mas ainda não assusta, pois o mercado de trabalho estava muito aquecido, criando 1 milhão de vagas por ano. Mas outros indicadores - crédito, consumo e, acima de tudo, investimento privado, que recua - estão exigindo uma ação mais firme e agressiva. Nesta semana, ficou provado que a economia interna não está reagindo como se esperava e a contaminação do vírus recessivo ocorre numa rapidez inquietante. Alguns meses mais, e poderemos estar caminhando para um PIB menor que 3%, que não é tecnicamente recessão mas causará os mesmos danos à economia real: queda de investimentos e da produção, além da destruição de empregos. Um crescimento de apenas 2% num país de economia ainda frágil, com custos humanos e sociais elevadíssimos e uma população jovem, é inaceitável. Temos de evitá-lo. Como? Após o socorro aos bancos, por meio do estímulo agressivo aos investimentos privados, na produção, injeção maciça no crédito ao consumo, medidas de rápido efeito de aumento de renda, entre outras já comentadas na coluna. Nunca é pouco insistir que aqui está faltando agressividade, ação rápida, desburocratizada, de efeitos imediatos ou de curto prazo. Ou isso, senhores de Brasília, ou talvez não escapemos da recessão. Ela pode ser evitada, sim, desde que se faça agora o que já deveria estar sendo feito há um mês. O sistema financeiro do País é forte, está resistindo bem, mas, decididamente, a economia não. UMA REUNIÃO APRESSADA O nosso presidente, com a equipe econômica, está em Washington, na reunião de líderes mundiais, com uma proposta menos urgente que até pode atrapalhar. Quer consertar o sistema financeiro, quer que os países em desenvolvimento sejam mais ouvidos, quer um novo modelo de fiscalização financeira mundial, quer o Brasil na ONU. Quer... quer... O que deveria querer é que todos os líderes convocados para essa reunião apressada e pouco produtiva não ficassem em promessas. Não, presidente, o Brasil deveria dizer, com o peso indiscutível que hoje conquistou no cenário internacional, que, uma vez socorrido o sistema financeiro, é hora de atender a economia, que afunda. Deve pedir que seja tomada uma decisão firme, uma carta assinada por todos afirmando que irão injetar no consumo e no investimento produtivo tanto quanto for necessário para aumentar a demanda. Se dessa reunião sair não a promessa, mas decisão firme e formal de investir em produção e demanda, a economia mundial poderá evitar uma recessão mais profunda. Esta é a bandeira que o Brasil deveria levantar, mostrando o único caminho para evitar ou atenuar a recessão. Após o socorro financeiro, tudo o mais deve ficar para depois. Investir, consumir - este é o caminho. É isso, presidente: realismo com poucas palavras e muita força. MAS É POSSÍVEL? Sim, e sem provocar efeitos danosos irrecuperáveis, como déficit fiscal, endividamento, inflação. Em alguns países faltam recursos, mas aí estão o FMI, o Banco Mundial e outras fontes dispostas a ajudar. O FMI mesmo defende a tese da demanda, embora recomende cuidado aos países mais frágeis. Aqui, estamos em melhor situação. Temos um problema fiscal com um superávit ainda frágil e instável, mas a economia e a demanda ainda estão aquecidas, o que exige menos esforço para incrementá-las. Juro menor, crédito mais fácil, prazos maiores (paciência, agora é preciso), condições mais atraentes, estímulo tributário para quem investir na produção, apoio às exportações. Enfim, as medidas clássicas que não vão onerar de forma irreversível as contas públicas nem levar o País à bancarrota e obrigá-lo a se socorrer do FMI. Há a inflação, sim, mas é um risco a ser enfrentado depois. Tudo mudou nos últimos dois meses. Temos a nosso favor que os preços das commodities recuaram, reduzindo a pressão sobre os preços e a inflação. AFINAL, TEREMOS RECESSÃO? Não necessariamente. Podemos evitá-la se agirmos com rapidez e ousadia. O governo está lento, parece meio perdido, teme e adia decisões que já deveriam estar impulsionando a demanda interna. Falta financiar as empresas para que produzam, e a agricultura, que sofre com a queda dos preços, com a falta de crédito na comercialização e na compra de insumos. Podemos evitar a recessão? Sim, mas primeiro é preciso que o governo a admita, em vez de rejeitá-la com entrevistas enganosas que negam a realidade. Para evitar a recessão, é preciso temê-la, não enganá-la. E se enganar quanto ao seu risco é correr para ela. *E mail: at@attglobal.net

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