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O capital de risco nas PPPs

Por Roberto Teixeira da Costa
Atualização:

Já se vão muitos anos quando, em 1980, recém-saído da presidência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), resolvi abraçar mais uma atividade pioneira: transformar a Brasilpar Comércio e Participações na primeira empresa dedicada ao venture capital (VC). A ideia de criar uma VC foi fortemente estimulada pelo IFC, braço de investimentos do Banco Mundial que havia apoiado a criação das primeiras empresas do ramo na Europa.Nossa proposta era realizar investimentos transitórios em empresas com potencial de crescimento e, posteriormente, buscar liquidez para essa participação, preferencialmente por meio do mercado de capitais ou atraindo novos investidores, controladores ou não. Não éramos investidores passivos. Tínhamos de ter algum tipo de representação na governança da empresa investida que nos permitisse acompanhar o nosso investimento.Na época, houve muita reação negativa, pelo ineditismo de nossa proposta, por exemplo, ao participarmos em Conselhos de Administração e, muito mais, em Comitês de Planejamento, Financeiros e de Auditoria. Falar na adoção de um código de conduta e auditoria externa era uma luta ferrenha!Devo reconhecer que o termo em inglês venture capital não ajudava. Posteriormente, o conceito foi se tornando conhecido e passou a vigorar a terminologia companhias de capital de risco, que hoje engloba não só as primeiras empresas de VC, mas também as de private equity (PE), em que a Brasilpar também foi uma das pioneiras. Criamos o primeiro fundo de PE (Equitypar), subscrito por bancos estrangeiros usando suas carteiras de empréstimos em moedas estrangeiras que naquela fase não podiam repatriar.Teoricamente, aplicadores e investidores de capital de risco buscam taxa de retorno superior às previstas se aplicadas nas blue chips. Consequentemente, há maior estímulo para companhias de capital de risco buscarem projetos quando os preços das ações estão caros, ou seja, mesmo com maiores riscos, poderiam antecipar melhores retornos comprando ações de empresas que projetassem retornos superiores ao de empresas negociadas na Bolsa.Também, quando o mercado de novos lançamentos está aquecido, não existe ou se vislumbra situação atraente para a atividade de PE, pois as potenciais empresas emissoras acessam diretamente o mercado de novas emissões. Atualmente, passamos por momento propício sob esse aspecto, pois os grandes IPOs projetados para 2013 foram adiados para 2014.Por outro lado, com a economia andando de lado e com poucas empresas realmente conseguindo manter a rentabilidade projetada, fica mais difícil escolher projetos atraentes. Existe capital disponível, mas boas oportunidades não têm sido fáceis de encontrar.Constata-se ainda, e talvez com maior intensidade, um descompasso entre o que os empresários acreditam ser o valor de suas companhias e o que os gestores de PE estão dispostos a pagar por suas ações. Obviamente, a rentabilidade projetada é função do valor do investimento calculado numa base realista. A incerteza sobre o futuro e a imprevisibilidade levam os gestores a buscar maiores rentabilidades do que no passado.Em conclusão, a indústria de PE amadureceu com forte participação de grandes players internacionais e que continuam tendo papel de grande importância no desenvolvimento do mercado e de boas técnicas gerenciais.Um dos grandes desafios enfrentados pelo setor é sua participação em parcerias público-privadas (PPPs) nos grandes projetos de infraestrutura que têm sido lançados e cuja participação do setor é de grande relevância para que possam ser viabilizados. Nesse aspecto, o fator credibilidade é essencial.Em recentes reuniões com empresários da América Latina de que participei no Panamá e em Lima, ficou evidente que, qualquer que seja a política do País, a associação de capitais nacionais e estrangeiros e a participação do Estado são essenciais para viabilizar projetos de infraestrutura, como, aliás, constatamos no caso brasileiro, desde que oferecidas condições de rentabilidade atraentes.*Roberto Teixeira da Costa foi o primeiro presidente da CVM e da Brasilpar.

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