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'O cenário mais provável é de mais 3 ou 4 altas de 0,25'

Embora denso, comunicado divulgado após o Copom mostrou 'um pulso que não é tão firme', diz economista

Por Leandro Mode
Atualização:

O economista Paulo Leme, chairman do banco Goldman Sachs no Brasil, disse ao Estado que o comunicado divulgado após a reunião de ontem do Copom indica que o ciclo total de elevações da Selic não deve superar 1,25 ponto porcentual.

A decisão do Copom veio dentro do que o sr. esperava?

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Sim, ficou dentro da minha expectativa.

Houve surpresa em relação ao fato de o Copom ter se mostrado relativamente dividido?

Sim. O comunicado é muito denso, contém muita informação. No entanto, com um pulso que não é tão firme. Mostra que essa divisão afeta até mesmo a avaliação sobre os próximos passos do Banco Central. Há uma preocupação com o ritmo da atividade interna, que tem apresentado pontos claros e pontos escuros. O comunicado também frisa preocupações com as incertezas externas, o que causou certa perplexidade.

Por quê?

A decisão do Copom coincidiu com a divulgação do novo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre as perspectivas para a economia global. Esse relatório mostra que a economia mundial vem em uma retomada. Além disso, o Fundo considera que o saldo de riscos melhorou. À luz disso, o comentário de ser cauteloso por incertezas externas me parece menos adequado. Isso deixa um pouco em aberto a firme convicção de aumentos adicionais grandes no futuro. A minha conclusão é de que o cenário mais provável é de outras três ou quatro elevações de 0,25 ponto cada. Portanto, o ciclo total estaria entre 1 e 1,25 ponto porcentual, dado o teor do comunicado.

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Se esse for mesmo o ciclo, será suficiente para conter as atuais pressões inflacionárias?

Não. Talvez consiga evitar um ritmo crescente da escalada de preços. Mas será curto se o objetivo é trazer a inflação de volta à meta de 4,5%.

Em um horizonte previsível, não dá para imaginar a inflação convergindo para o centro da meta de 4,5%?

O risco de um ciclo tímido de política monetária não reforçado por outras medidas - na área fiscal, no crédito e ações estruturais, como reformas - pode levar à desancoragem das expectativas. Aí o custo futuro de trazer a inflação de volta ao centro da meta será maior.

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Muitas pessoas vêm argumentando que um ciclo de elevações do juro poderia abortar a retomada, aparentemente frágil, da economia brasileira.

De acordo com a própria avaliação do BC, o ritmo da atividade no Brasil está mais limitado por causa de problemas da oferta agregada, ligados, por exemplo, à infraestrutura precária. Logo, o efeito da política monetária em manter a atividade mais aquecida não ocorre. Ou seja, não produziria uma alta do PIB superior a 3%, que acredito ser, hoje, o potencial de expansão do Brasil. Não acho que a política monetária, no momento, é a solução para que o Brasil cresça mais do que 3%. Para isso, precisamos de reformas estruturais, que aumentem a competitividade, a produtividade e resolvam mais rapidamente os gargalos da infraestrutura.

Declarações públicas do ministro Guido Mantega e mesmo da presidente Dilma Rousseff atrapalham o Banco Central?

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As questões mais fundamentais não são essas. Quem disse o quê e quando não me preocupa tanto quanto a abrangência do programa econômico para atacar as questões de inflação, produtividade e crescimento.

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