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O contribuinte vai levar um susto

Por ribamar.oliveira@grupoestado.com.br
Atualização:

Os contribuintes certamente levarão um susto quando tomarem conhecimento das alíquotas do novo Imposto sobre Valor Adicionado (IVA), que será instituído pela reforma tributária em gestação no governo. A proposta oficial prevê a substituição de quatro tributos federais (Cofins, PIS, IPI e Cide-combustíveis) por um IVA federal (chamado de IVA-F) e de dois outros tributos (ICMS e ISS) por um IVA estadual (chamado de IVA-E). O economista Amir Khair fez as contas e constatou que pelo menos um setor importante da economia - o de energia elétrica - terá alíquota total (a soma das alíquotas do IVA - F e do IVA - E) superior a 55%. A alíquota do setor de telecomunicação poderá ultrapassar 45%. A realidade será ainda pior do que essa apontada por Khair, pois o economista não incluiu no seu cálculo o Imposto sobre Serviços (ISS), cobrado pelos municípios. As elevadas alíquotas serão, sem dúvida, uma das principais dificuldades da proposta de reforma tributária, pois os contribuintes terão a sensação de que haverá aumento da carga tributária. Na verdade, a carga que incide hoje sobre bens e serviços é muito elevada, mas não é explicitada quando o consumidor adquire uma mercadoria ou contrata um serviço. O consumidor não tem idéia de quanto está pagando de impostos, pois cada esfera da administração pública cobra o seu e não informa nada. A carga tributária é difusa, pois resulta da incidência de vários tributos que não são percebidos pelo contribuinte. É difícil encontrar alguém que saiba quanto está pagando por conta da contribuição do PIS ou de quanto é a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) na compra de um litro de gasolina. Cada produto carrega em seu preço todos esses tributos, mas o consumidor não tem a menor informação sobre quanto paga. Com o novo IVA, a carga tributária será explicitada. ''''O peso dos imposto será o mesmo com o novo IVA, mas a carga tributária ficará mais transparente'''', observou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, em conversa com este colunista. Appy é o principal responsável no Mistério da Fazenda pela formulação da proposta de reforma tributária. Ele disse que o texto da emenda constitucional que o governo encaminhará ao Congresso Nacional garantirá que a atual carga tributária não será aumentada. ''''Vamos assegurar que a carga não vai mudar'''', disse. Segundo Appy, o texto da emenda constitucional prevê que a alíquota do novo IVA será reduzida no exercício seguinte se a carga tributária aumentar. Os dois novos IVAs terão que arrecadar o equivalente a 14,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Esta foi a receita total dos tributos que incidem sobre bens e serviços em 2006 (veja tabela abaixo). Como as exportações e os investimentos serão totalmente desonerados de impostos e contribuições e os produtos da cesta básica terão uma alíquota pequena ou nula, outros tipos de bens e serviços terão uma alíquota um pouco maior para que a mesma receita seja obtida. É muito provável que alguns serviços tenham um aumento da carga tributária com o novo IVA. O IVA terá várias alíquotas, sendo a menor para os produtos da cesta básica e a maior para aqueles produtos e serviços que hoje já são responsáveis pelo grosso da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins): energia elétrica, comunicações e combustíveis. Este colunista teve acesso a estimativas técnicas que indicam a necessidade de uma alíquota média do novo IVA entre 26% e 28% para que a arrecadação equivalente a 14,7% do PIB seja obtida. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ), relator da subcomissão de reforma tributária do Senado, acha que é importante explicitar a atual carga, antes mesmo da reforma. Para ele, se isso for feito, a criação do novo IVA ficará mais fácil. Dornelles disse que o consumidor poderá exercer plenamente a cidadania quando souber quanto paga de imposto. Só assim, argumenta, o contribuinte poderá acompanhar e cobrar dos governantes a aplicação dos tributos. A transparência permitirá também que os consumidores reajam à tentativa de novos aumentos da carga tributária.

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