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O desemprego em 2015

Por José Paulo Z. Chahad e José Pastore
Atualização:

Prever o desemprego é um exercício arrojado. Muitas variáveis influenciam o seu nível. Contudo, observando o quadro econômico atual, acreditamos ser possível apresentar uma estimativa razoável de sua tendência em 2015, pois muitos dos seus determinantes são conhecidos, como os citados a seguir. Nos últimos anos, as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) têm declinado bastante. Para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil crescerá 0,3%, em 2014, e 1,4%, em 2015 - valores irrisórios para manter a taxa de desemprego no nível atual (5%). A criação de empregos continua frágil. Entre janeiro e agosto de 2014, foram gerados cerca de 750 mil postos de trabalho formal em todo o Brasil - uma redução de 32% em relação ao mesmo período de 2013. Estima-se que, até o fim deste ano, será gerado cerca de 1 milhão de empregos - bem abaixo dos 2,5 milhões criados em 2010. O impacto do PIB na geração de emprego vem diminuindo ano a ano. A relação entre as variações do emprego e as variações do PIB (elasticidade emprego-PIB), que em 2002 era de 1,4, caiu para -1,4, em 2012, uma redução colossal. Isso significa que, mesmo desconsiderando o baixo crescimento do PIB, o sistema produtivo vem demandando cada vez menos mão de obra (José Paulo Z. Chahad e Rafaella Gutierre Pozzo, Mercado de trabalho no Brasil na primeira década do século XXI: evolução, mudanças e perspectivas, revista Ciência & Trópico, 2014), por força da intensificação do uso de métodos e de processos que poupam trabalho, o que fará aumentar o desemprego. O quadro de inflação crescente poderá influir no nível de emprego e gerar desemprego em 2015. Mesmo porque, o custo de combater a inflação tem crescido muito. Inúmeros estudos indicam que a Curva de Phillips (que mostra uma relação inversa entre inflação e desemprego) está cada vez mais "achatada". Isso significa que, nos dias atuais, combater a inflação gera muito desemprego. É notória a anemia dos investimentos que decorre de um quadro desfavorável da economia no momento atual. Segundo estimativas do Ibre/FGV, a Formação Bruta de Capital Fixo em 2014 cairá cerca de 8%, levando a taxa de investimentos com relação ao PIB para 17%, bem abaixo do seu potencial. Convém lembrar que, em 1989, os investimentos chegaram a quase 27% do PIB! O desestímulo aos novos investimentos não se reverterá no curto e no médio prazos, o que deve comprometer a geração de empregos em 2015, com efeitos perversos no campo do desemprego. Com a estagnação da economia e o aumento da inflação, haverá uma intensificação da deterioração da renda individual e das famílias. Os que hoje estão fora do mercado de trabalho, apesar de terem idade para trabalhar (jovens, mulheres e idosos), passarão a buscar emprego, o que forçará a taxa de desemprego para cima. Outro elemento a considerar como fonte potencial de elevação do desemprego em 2015 refere-se à conjuntura internacional. A recuperação americana prossegue em ritmo lento. A China está desacelerando, haja vista a queda na produção industrial, que recuou 6,9% em agosto de 2014, em relação ao mesmo mês do ano anterior. O Japão continua em recessão, pois seu PIB se reduziu 1,8% no terceiro trimestre deste ano. A zona do euro mostra baixo crescimento (0,8% em 2014). E, nos países emergentes, o crescimento também é lento por causa do baixo nível de produtividade e da queda dos preços das commodities. Em suma, para o nosso desgosto, como pesquisadores do mercado de trabalho e cidadãos brasileiros, vemos com tristeza uma iminente elevação da desocupação neste final de ano e ao longo do próximo. Mesmo com um choque de gestão do governo e uma forte correção dos problemas atuais, será difícil de evitar uma elevação do desemprego em 2015. Essa é a leitura mais crítica que fazemos das atuais condições da economia brasileira. *José Paulo Z. Chahad e José Pastore são professores da Fea-USP e membros do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomércio-SP 

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