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O dólar e a gastança

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Por Redação
Atualização:

Foi só o Banco Central aumentar os juros em meio ponto porcentual para que voltassem as pressões para que o governo trate de fazer alguma coisa para evitar nova valorização do real (queda do dólar no câmbio interno). O último boato não desmentido é o de que o governo prepara novo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre a entrada de dólares destinados a aplicações em títulos de dívida brasileira, para desestimular essas operações. Não há como negar que a ampliação da diferença entre juros internos e externos contribui para a valorização do real. Mas defender que esse efeito pode ser evitado com uma garfada de IOF é o mesmo que dizer que consertar a torneira com vazamento ajuda a diminuir o volume da água da enchente que invadiu a rua. O problema começa com confusão de aflições e de diagnósticos. A maioria dos aflitos afirma que o dólar barato demais aumenta perigosamente as importações e que isso pode provocar enorme crise cambial (falta de dólares para pagamento das contas). O principal equívoco dessa visão é de que possa haver simultaneamente crise cambial e valorização do real. À medida que os agentes do mercado de câmbio percebessem que as contas externas começassem a se deteriorar, ficaria inevitável a alta do dólar (desvalorização do real) que, por sua vez, se encarregaria de conter importações. Afora isso, uma coisa é enfrentar crise cambial com reservas no chão; outra, bem diferente, é contar, como agora, com US$ 200 bilhões em caixa para enfrentar eventual déficit nas contas externas. O principal fator de valorização do real foi a disparada das exportações que proporcionou um superávit comercial acumulado de US$ 205,4 bilhões em sete anos. Nesse filme, juros altos não passam de atores coadjuvantes. E, ainda assim, contribui mais para a alta do real o volume de dólares que normalmente sairia do País e não saiu, para aproveitar os juros altos, do que o volume de dólares que entrou, também para aproveitar os juros altos, e que normalmente não entraria. Se o dólar que já está no País contribui mais para a valorização do real do que o dólar que entra para aplicações ou investimentos, não faria sentido cobrar pedágio à sua entrada como alguns exigem. Há, sim, um volume crescente de moeda estrangeira entrando não para aproveitar os juros altos, mas para investir na economia brasileira que, aos olhos dos senhores do dinheiro, aparece como cada vez mais atraente. Nos últimos quatro anos, nada menos que US$ 86,6 bilhões entraram no País como Investimento Estrangeiro Direto. E não serão os de sempre que coibirão a entrada de investimentos quando o que mais se quer é aumento da produção. O governo Lula já fez de tudo para tentar segurar o dólar diante do real. Levou o Banco Central e o Tesouro a adquirirem dólares, recomprou dívida externa, acabou com a cobertura cambial (ou seja, liberou depósitos em dólar de exportadores no exterior) e passou a cobrar um IOF sobre as aplicações estrangeiras em títulos brasileiros. Só não cortou a gastança (despesas correntes do governo crescendo a 15% ao ano) que puxa o consumo para além da capacidade de oferta da economia, cria inflação e exige juros na lua. CONFIRA Pior do que o esperado - Ontem, o Bank of America, o segundo maior banco americano em ativos, apresentou um balanço ruim do primeiro trimestre. As receitas cairam 77% em relação às do primeiro trimeste de 2007, para US$ 1,2 bilhões. E o lucro líquido caiu 59%, para US$ 1,1 bilhões. O Banco teve de fazer provisões de US$ 6 bilhões para cobrir créditos podres. Este foi o fator que levou a Bolsa de Nova York a operar em baixa. O mau resultado do Bank of America jogou alguma água fria nas estimativas de que o pior da crise já passou.

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