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O efeito Olimpíada na bolsa chinesa

Por Don Lee
Atualização:

Muitos investidores chineses acreditavam que a Olimpíada estimularia as bolsas que estavam em baixa no país, mas, até o momento, o que vem acontecendo é exatamente o contrário. Por seis vezes em sete sessões, o índice composto de Xangai, que serve de referência ao mercado, despencou - na segunda-feira a queda foi de 5,3%. O índice baixou 15% desde a abertura dos Jogos Olímpicos - uma queda de 56% desde o início do ano. No entanto, ontem, o efeito da Olimpíada se reverteu após o anúncio do vice-primeiro-ministro da China, Li Keqiang, de que o governo pretende elevar o consumo doméstico para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças na situação econômica global. Isso fez com que as Bolsas da China fechassem em forte alta. O Xangai Composto subiu 7,6% e encerrou aos 2.523,28 pontos, no seu maior ganho porcentual diário desde 24 de abril, quando o índice subiu 9,3%. Já o Shenzhen Composto ganhou 7,2% e terminou aos 712,82 pontos. Esta virada olímpica pode ter salvo o país de obter um dos piores índices do mundo. O economista do JP Morgan, Frank Gong, disse em nota distribuída a cliente ontem que a China pode estar considerando lançar um pacote de estímulo econômico de pelo menos 200 bilhões de yuans a 400 bilhões de yuans, incluindo corte de impostos e medidas para estabilizar os mercados de capital e sustentar o mercado imobiliário. Mesmo assim, o entendimento no país é de que a Olimpíada prejudicou o desempenho da bolsa."Todos diziam que, em julho, o mercado ficaria positivo, antes dos jogos, então seguimos a indicação e continuamos apostando", comentou uma operária têxtil aposentada, Gu, de 70 anos, com os olhos fixos no quadro de cotações da bolsa na Haitong Securities, em Xangai. "Em julho, disseram que o espírito do mercado voltaria com a abertura da Olimpíada. Que espírito é esse? Agora, estamos todos mortos e não sobrou nenhum espírito no mercado." As companhias aéreas chinesas, como a Air China e a China Eastern, foram particularmente atingidas pela baixa, depois da divulgação de relatórios sobre a redução do trânsito de passageiros em conseqüência da adoção de um maior rigor na concessão dos vistos. As ações do mercado de commodities, de títulos e do mercado imobiliário também baixaram consideravelmente. Na Bolsa de Xangai, os investidores que perderam superam os que ganharam por 810 a 12 , e no mercado menor de Shenzen por 650 a 19 . Não há "nenhuma razão especial" para o que aconteceu na segunda-feira, afirma Fan Dizhao, gerente de investimentos da Guotai Asset Management Co. de Xangai. "As pessoas já não têm muita vontade de investir na bolsa." Nos últimos dias, Pequim divulgou uma série de relatórios econômicos, mas nada tão grande ou preocupante que permitisse supor uma queda acentuada. As estatísticas sobre a inflação mostraram que os preços ao consumidor estavam baixando, mas que os produtores pagavam mais pelos bens, o que sugere que os lucros das empresas deverão declinar. Entretanto, as exportações da China aceleraram e as vendas do varejo continuam em expansão. Em termos gerais, a economia da China está esfriando, mas ainda cresce com vigor, considerando a crise econômica que afeta grande parte do mundo. Entretanto, a bolsa chinesa muitas vezes segue um movimento próprio, sem se importar com as condições econômicas gerais. As ações chinesas caíram na maior parte desta década, apesar do crescimento da economia interna e a global. Então, em 2006, o índice de Xangai deu um salto de 130%, e em 2007 esta porcentagem dobrou, quando os investidores começaram a apostar em retornos polpudos e rápidos. Em 2008, com a queda das ações, muitos investidores defenderam a idéia de que o governo chinês deveria intervir para sustentar o mercado antes das Olimpíadas, para animar os espíritos e manter a estabilidade às vésperas do grande evento esportivo. Quando isso não ocorreu, e os investidores se depararam com sinais pouco claros na economia, o pessimismo tomou conta. "O mercado escapou um pouco do controle agora", disse Zhang Qi, analista da Haitong Securities. "Parece que a confiança dos investidores está prestes a entrar em colapso." Mas especialistas do setor já previam que as ações chinesas poderiam se recuperar logo. A acentuada correção dos últimos meses tornou os valores das ações mais atraentes. No seu pico, em outubro de 2007, quando o índice de Xangai ficou acima de 6.000, as ações eram negociadas em média a preços quase 53 vezes o valor de seus lucros - três vezes mais do que o valor das ações americanas, segundo Jing Ulrich, presidente de valores mobiliários da China na JP Morgan Securities, em Hong Kong. O coeficiente preço-lucro das ações chinesas caiu desde então para cerca de 18. Além disso, o governo central já sinalizava a preocupação em estimular o crescimento econômico, o que pode significar um abrandamento das restrições aos empréstimos bancários, e um aumento dos gastos com infra-estrutura. "É possível que estejam sendo preparadas medidas para levantar o mercado", já dizia Ulrich, observando que o governo poderá reduzir o imposto sobre transações, quantia que os investidores pagam toda vez que compram ou vendem ações. Até ontem, o governo de Pequim alegava, por meio d a agência reguladora da bolsa chinesa, que a baixa era devida em parte à estrutura e aos mecanismos pouco sólidos do mercado, sem entrar em detalhes ou oferecer remédios. Os investidores individuais da Bolsa afirmaram que não sabiam por que suas ações estavam caindo. "Não existe uma lógica. Nenhum mercado cai tanto e acidentalmente como o nosso", disse Xu Jianzhong, 50, que trabalha em uma agência da Previdência de Xangai. "Seria bom agora, com as Olimpíadas, que a inflação caísse, mas isto não tem nada a ver com o mercado na China. Eu me encontro em uma situação tão difícil, que não há nada que possa fazer". *O autor escreve para o "Los Angeles Times"

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