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O emprego na campanha eleitoral

Por José Pastore
Atualização:

Mario Henrique Simonsen costumava dizer que a inflação aleija, mas o câmbio mata. Parafraseando o saudoso economista, parece razoável dizer que, numa campanha eleitoral, a inflação aleija, mas o desemprego mata. Isso porque o desemprego fragiliza a economia doméstica e mina o sentimento de dignidade. Os primeiros programas eleitorais no rádio e na televisão já mostraram a importância do tema. Os candidatos da situação destacam que nunca na história deste país se gerou tanto emprego como na gestão do PT. Os dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2013 indicaram a existência de 49 milhões de empregos formais, um avanço de 65% em dez anos. Mais do que isso, eles argumentam que os trabalhadores desfrutam hoje de uma situação de pleno-emprego - com apenas 5% de desempregados. E adicionam o fato de que a maioria dos brasileiros foi beneficiada com uma apreciável elevação da renda do trabalho, que em dez anos aumentou 32% em termos reais. São trunfos preciosos. A oposição fica com o difícil desafio de convencer o eleitor comum a abandonar os candidatos da situação e tudo o que fizeram até aqui em favor do emprego e do poder de compra dos trabalhadores. Missão complicada. Aos candidatos da oposição resta explorar as dificuldades latentes no mercado de trabalho. Entram na sua argumentação os dados recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que em julho revelaram um crescimento pífio na geração de empregos: menos de 12 mil novos postos de trabalho, o pior resultado dos últimos 15 anos. A oposição destaca ainda que os setores mais dinâmicos e que melhor empregam passaram a dispensar empregados, como é o caso da indústria automobilística, mecânica e metalúrgica. Com isso, os candidatos tentam criar nos eleitores um clima de apreensão em relação ao futuro. É pouco provável, porém, que o eleitor comum que está empregado e recebendo aumentos salariais acima da inflação venha a se abalar com o futuro sombrio apontado pela oposição, por mais realista que seja o raciocínio dos que veem a estagnação da economia no presente como detonadora de uma grave crise de emprego no futuro. Não invejo a situação dos marqueteiros da oposição porque, no campo do emprego e da renda, os dados parecem favorecer a situação. Com o forte encolhimento dos que procuram emprego, a taxa de desemprego se mantém baixa e a pressão salarial se mantém alta. A desocupação em São Paulo, por exemplo, recuou de 5,1% para 4,9% em julho, ao mesmo tempo que 93% das negociações coletivas do primeiro semestre terminaram com ganhos reais de salários. É verdade que o emprego de amanhã resulta dos investimentos de hoje. E como o setor privado parou de investir, o quadro de 2015 tende a ser bastante diferente do atual. Ou seja, a oposição pode questionar a capacidade de a situação repetir o feito anterior em condição tão adversa como a que se descortina para o próximo ano. Mas isso requer um exercício de lógica simples para o especialista, mas complexo para o eleitor comum. Como levá-lo a abandonar o certo pelo incerto? Isso não é impossível, mas exige uma didática aprimorada que seja capaz de criar no eleitorado uma dissonância acentuada entre o que ele vive hoje e a incerteza que o espera amanhã. Não tenho a menor vocação para o ramo da propaganda. Levanto estas questões porque não vejo fragilidade no discurso da situação no que tange aos temas relacionados ao mercado de trabalho. Não vejo tampouco na oposição uma estratégia efetiva de geração da incerteza que pode levar o eleitor comum a desprezar o presente certo em favor de um futuro incerto. Pedindo desculpas ao leitor por me considerar um reles amador em matéria política, penso ser este um dos maiores obstáculos da campanha da oposição no pleito atual. Sem uma estratégia adequada, é melhor mudar de assunto.*José Pastore é professor da Fea-USP, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Fecomércio-SP e membro da Academia Paulista de Letras

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