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O feitiço do PT na Petrobrás

Por Suely Caldas
Atualização:

O feitiço virou contra o feiticeiro. O esquema de loteamento político de cargos e de verbas no governo e nas estatais, o toma lá dá cá desenfreado com partidos políticos instituído pelo ex-presidente Lula e pelo PT desde 2003, está na raiz dos escândalos de corrupção dos últimos 12 anos, esgotou-se de vez com a acelerada trituração da Petrobrás e acabou voltando-se contra seus criadores (alguns deles condenados e presos). O carimbo mais forte dos 12 anos de gestão petista foi o da roubalheira (conseguiram superar o período Sarney!), marca que entra para a História com cores tão exuberantes que tornam pálidos e despercebidos os importantes avanços sociais e a redução da pobreza, hoje ameaçados de descontinuidade. Os petistas respondem que não inventaram nada e em todos os governos de 125 anos da República houve corrupção. Mas desde Deodoro da Fonseca a prática nunca foi tão avassaladora, escancarada, institucionalizada e abundante, chegando ao segundo, terceiro, quarto escalões - em Brasília e nos Estados, onde for a preferência dos partidos que recebem os favores em troca de apoio político, sobretudo nas eleições. E o mais grave desse esquema - que governistas chamam de governabilidade e a oposição vê como meio para o PT se perpetuar no poder - é que ele introduziu um conceito cínico, não explicitado, mas incorporado sem disfarces, de que ao político nomeado (ministro, diretor de estatal, etc.) é permitido extrair do cargo proveitos e vantagens para seu partido. O velho e bom conceito de servir ao País inexiste. Por isso os ministérios mais cobiçados são os dotados de verbas mais milionárias, de preferência com obras a serem tocadas ou capilaridade política nos Estados: Transportes, Minas e Energia, Cidades e Integração Nacional. Como todo feitiço, este também tentou enganar o País. A população começou a enxergar quando explodiu o mensalão, mas seguiu elegendo Lula, depois Dilma, agora Dilma de novo e a enganação continuou, o dinheiro público seguiu servindo ao feiticeiro. Se faltava cargo para partidos que dessem segundos que fossem na TV, o feiticeiro inventava mais um ministério. E criou este inexpressivo e medíocre monstrengo de 39 pernas alimentado com dinheiro dos brasileiros. É tanto ministro sem ter o que dizer que Dilma limitou suas falas a sete minutos na reunião ministerial, "para todos terem chance de falar". Com o tempo, o feitiço foi sendo descoberto e o feiticeiro, desmascarado. Mas ele não recuou. Com a Olimpíada de 2016 à frente, Dilma acaba de nomear ministro do Esporte um pastor evangélico que confessa desconhecer o que fazer. Mas o feiticeiro foi aplicar seu feitiço na Petrobrás, empresa símbolo como a bandeira do País. Além da bilionária roubalheira comprovada pela Operação Lava Jato, Dilma cometeu uma impressionante sucessão de erros grosseiros de gestão que estão destruindo a Petrobrás e que culminaram com o desastrado atraso de um simples balancete trimestral. Atraso motivado pelos R$ 2,1 bilhões surrupiados da empresa e pela incompetente gestão política. Mexer com a Petrobrás e achar que nada vai acontecer é coisa de amador, é desconhecer sua enorme capilaridade, importância e influência para a economia do País. A presidente Graça Foster avisou que ela vai encolher, vai cortar 30% dos investimentos e será muito "seletiva" nos leilões de novas áreas de exploração. A Petrobrás é tão grande e relevante que essa redução de investimentos vai tirar milhares de empregos em muitas empresas que com ela comercializam, vai reduzir ainda mais a medíocre taxa de investimento do País e tornará inviável a exploração na região do pré-sal. Por força de lei arquitetada por Dilma, no pré-sal ela é a única empresa operadora e é obrigada a entrar com 30% do dinheiro investido em cada poço explorado. Como ela será seletiva, o petróleo vai continuar no fundo do mar, empregos deixam de ser criados e a renda que seria gerada vai fazer falta aos brasileiros. Dilma Rousseff costuma se calar em situações difíceis. Mas o feitiço pôs o feiticeiro numa baita enrascada. Como ele vai sair? *É JORNALISTA E PROFESSORA DA PUC-RIO E-MAIL: SUCALDAS@TERRA.COM.BR

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