19 de outubro de 2013 | 02h09
A baixa remuneração paga pelo FGTS caracteriza, assim, uma distorção. Os trabalhadores não auferem sequer uma renda capaz de preservar o poder aquisitivo dos depósitos originais no fundo. Por isso, alguns depositantes se organizam e entram na Justiça para tentar recuperar o que consideram prejuízo. E este usualmente só é constatado na hora do saque, por motivos como aposentadoria, doença, compra da casa própria, etc., segundo reportagem do jornal O Globo.
Mas, se os trabalhadores perderam, houve ganhadores, segundo o Instituto FGTS Fácil. O FGTS obteve lucro de R$ 1,38 bilhão, em 2002, e de R$ 14,35 bilhões, em 2012. O retorno médio dos recursos aplicados pelo fundo foi de 9% ao ano, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese).
O custo de administração do FGTS, gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF), foi de R$ 3,3 bilhões no ano passado.
A contrapartida da remuneração negativa (inferior à inflação) paga aos depositantes do FGTS é a existência de recursos que a CEF empresta a trabalhadores para a compra da casa própria, a Estados e prefeituras que investem em saneamento básico e, ainda, a empresas que tomam recursos no fundo de investimento FI-FGTS. Também o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recebe, indiretamente, recursos da Caixa.
De fato, com os recursos depositados do FGTS, milhões de moradias foram financiadas a juro baixo. Ocorre que o benefício é feito às expensas dos trabalhadores que fazem poupança compulsória no FGTS. Estes, na prática, transferem recursos para outros trabalhadores ou empresas que tomam crédito subsidiado.
Situação esdrúxula, que deveria ser revista antes que o pleito dos depositantes seja acolhido na Justiça, criando um novo "esqueleto" capaz de assombrar as contas públicas.
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