22 de abril de 2010 | 00h00
Mas, muito mais importante, o FMI admitiu no passado que, para consolidar a saída da recessão, é preciso uma coordenação de políticas econômicas, monetárias e fiscais entre os países que chama de "economia avançada". Só que esses países se resumem à União Europeia e aos Estados Unidos. Os europeus já disseram que não nas várias reuniões do G-7 e G-20, ou pelo menos agem dessa forma. Não só não se unem aos outros ? estão desunidos entre si. Eles persistem e se isolam, conformados com um crescimento franzino ? 1%, prevê o FMI ?, um isolamento soberano que os levou a uma queda do PIB de 4,1% em 2009. Os EUA decidiram caminhar sozinhos, às turras com a China, soberba e indiferente a todos. Eles não são mais o sustentáculo do crescimento e do comércio mundiais.
FMI desatualizado. O Fundo prevê um crescimento de 5,5% este ano. Está atrasado. A previsão parte do princípio que os incentivos fiscais serão retirados, reduzindo, assim, o aumento da demanda. Errado. Não leva em conta vários fatores dificilmente reversíveis que estão impulsionando o crescimento: o aumento da renda das famílias, a formação de um verdadeiro "mercado de massa" que se autoalimenta e representa quase 70% do PIB, os investimentos, privados e oficiais que, mesmo insuficientes, geram emprego e consumo. E, além disso, os governos, federal, estaduais e municipais estão antecipando obras, que podem ser supérfluas, improdutivas e até perdulárias, mas, queiramos ou não, estimularão a demanda interna.
Vejam os dados. Para fortalecer a previsão próxima de 7% do PIB, basta ver os dados oficiais da arrecadação divulgados esta semana. Ela não para de crescer. Em março, foi 14,8% sobre fevereiro. Mesmo com isenções, o IPI rendeu mais 14,5%. Sabem por quê? Porque com isenção e tudo, por causa do aumento das vendas, o IPI sobre automóveis cresceu 519%(!!!)
Tem mais. As pessoas físicas pagaram mais 4,3% e o recolhimento na fonte, mais 4,6%. Mas, muito mais significativo, a contribuição ao INSS no primeiro trimestre cresceu 22,8%!!! Isto é, tem mais gente sendo contratada ou ganhando mais ? para a coluna, ambos ?, o que sustenta o vigor da demanda interna, igual ao da China.
O presidente do Banco Central. Henrique Meirelles, defendeu em comissão do Senado, na terça-feira, o aumento dos juros para manter crescimento sem pressão inflacionária. Só que até agora a redução seletiva dos incentivos e o recolhimento aos cofres do BC de US$ 71 bilhões dos R$ 100 bilhões liberados do depósito compulsório não seguraram o aumento da demanda interna. O BC prevê agora um PIB de 5,8%. É difícil prever que um aumento dos juros terá efeito a curto prazo sobre o otimismo dos consumidores.
As vendas ao varejo não param de crescer e os supermercados de vender. As classes D e E, cujo aumento de renda está na base dessa expansão, continuam comprando, porque não podiam comprar o indispensável antes. Vai ser difícil conter essa ânsia de consumo. Só drásticas medidas de desaquecimento econômico, que podem gerar desemprego, conteriam um crescimento do PIB acima de 6%.
Isso é inviável porque, mesmo criando quase 1 milhão de empregos no ano passado, ainda estamos longe de recuperar os 2 milhões que desapareceram na recessão. Economicamente não é recomendável e politicamente é impossível. Vai se difícil segurar o ávido consumidor brasileiro, que só agora vê sua renda aumentar.
Foi isso que o FMI não viu...
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