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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|O fundo do poço?

Se o PIB cair no 1.º trimestre e se o IBGE revisar o anterior, vamos entrar em recessão

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Atualização:

Com a esmagadora maioria dos analistas esperando uma retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, a ser divulgado amanhã, e a possibilidade de o IBGE revisar para baixo o desempenho do último trimestre de 2018, a pergunta que se faz é: a economia brasileira atingiu o fundo do poço entre janeiro e março ou o pior ainda não ficou para trás?

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Segundo pesquisa do Projeções Broadcast, com 50 instituições financeiras, o PIB encolheu 0,2% no primeiro trimestre deste ano. Se esse desempenho surpreender negativamente, com uma contração maior, há o risco de o IBGE revisar o PIB do último trimestre de 2018 de um crescimento de 0,1% para uma queda, o que colocaria o Brasil em uma recessão técnica, quando a economia encolhe por dois trimestres consecutivos.

De um lado, a forte recessão na Argentina e a desaceleração da economia global, sob o espectro da guerra comercial entre Estados Unidos e China, tornaram o ambiente externo menos favorável ao PIB brasileiro. De outro, a decepção com o andamento das reformas, em particular a da Previdência, e a frustração com a articulação política do governo Jair Bolsonaro minaram a confiança de empresários e consumidores ao longo do primeiro trimestre. Somam-se a esses fatores os efeitos retardados sobre as condições financeiras e variáveis macroeconômicas de choques sofridos no ano passado, entre os quais a greve dos caminhoneiros.

“Não acho que o pior ficou para trás”, diz a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour Chachamovitz, que estima uma retração de 0,2% no primeiro trimestre e um crescimento de 1,0% para 2019 como um todo, embora trabalhe com um viés de baixa para essa estimativa. “Os índices de confiança voltaram a cair e a incerteza política e fiscal continua altíssima.”

Enquanto alguns indicadores antecedentes em abril apontaram para uma recuperação da atividade econômica no segundo trimestre, outros não dão margem para otimismo.

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Em abril, a produção de veículos cresceu 0,5% sobre igual mês do ano passado e a de papelão ondulado aumentou 1,3% no mesmo período. O fluxo de veículos pesados nas estradas pedagiadas cresceu 1,4% em abril ante março. Também em abril, houve a criação de 129 mil vagas formais de emprego, segundo o Caged, bem acima das expectativas dos analistas, que eram de geração de 78 mil postos de trabalho.

Por outro lado, todos os índices de confiança recuaram em maio: o do consumidor caiu 2,9 pontos, o da indústria perdeu 0,7 ponto e o do comércio recuou 5,4 pontos.

Para o economista-chefe da Rio Bravo Investimentos, Evandro Buccini, a decepção do PIB do último trimestre de 2018 e a possível contração do PIB do primeiro trimestre de 2019 levaram a um pessimismo exagerado. Ele prevê uma contração de 0,2% no primeiro trimestre, mas estima um crescimento de 1,5% da economia brasileira em 2019.

“As pessoas estão extrapolando os dados ruins do primeiro trimestre para o resto do ano”, argumenta Buccini. Segundo ele, o crescimento da economia aceleraria para 0,8% nos três trimestres restantes para atingir expansão de 1,5% no ano.

Segundo ele, o Brasil tem baixa capacidade de crescimento de longo prazo, mas isso não mudou significativamente nos últimos dois trimestres. “O setor que deve impulsionar o crescimento no resto do ano deve ser o consumo”, diz. “Mesmo com a taxa de desemprego alta, a massa salarial e o crédito para pessoa física estão crescendo a um ritmo condizente com aceleração do consumo nos próximos meses.”

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Para Solange, da ARX Investimentos, os dados de abril do Caged ainda não dão margem para otimismo. “Foi apenas um dado mais forte e os salários ainda estão e ficarão bem contidos”, observa. “O hiato no mercado de trabalho é enorme e não é uma melhora marginal que me fará ficar mais otimista.”

Independentemente de o pior da atividade econômica ter ficado para trás ou não no primeiro trimestre, os analistas concordam que a principal fonte de incerteza para o desempenho da economia no restante do ano é a política. Mesmo com os parlamentares tomando para si uma agenda de reformas, diante dos sinais dúbios do presidente Bolsonaro, que tipo de reforma tributária e da Previdência sairá do Congresso? Suficientes para finalmente destravar os investimentos?

*COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

Colunista do Broadcast

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