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O herói financeiro. Antes mesmo de terminar seu trabalho

Por Edmund L. Andrews
Atualização:

Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), já não tem mais ares de quem não dorme. Ele continua trabalhando sete dias por semana, mas no início deste mês, pela primeira vez em dois anos, tirou dois dias de licença para assistir ao casamento do filho. E vem jantando com mais frequência em casa e até conseguido sair para assistir a alguns jogos de beisebol. Na reunião de presidentes e economistas de bancos centrais de todo o mundo, na próxima semana, durante o retiro anual do Fed em Jackson Hole, Wyoming, muitos deverão acolher Bernanke como o herói vitorioso. Em Washington e Wall Street, será uma surpresa se o presidente Barack Obama não nomear Bernanke para um segundo mandato, mesmo sendo ele um republicano e ter sido nomeado pelo ex-presidente George W. Bush. Mas a Casa Branca tem permanecido firmemente silenciosa. E, apesar da credibilidade em alta de Bernanke nos círculos financeiros, tanto ele como o Fed, como instituição, vêm sendo criticados por legisladores de ambos os partidos com relação à condução de determinados pacotes de ajuda e o alcance do poder do banco. Bernanke sente-se frustrado porque muita gente no Co-ngresso não dá ao Fed o merecido crédito pelo que vem realizando. Na verdade, ele se reuniu em particular com centenas de políticos nos últimos meses para explicar a estratégia de socorro financeiro adotada pela instituição. No entanto, colegas economistas têm elogiado Bernanke pelas suas ações corajosas e sua mão firme para tirar a economia da pior crise desde os anos 30. Desprezando as estratégias comumente adotadas pelo Fed no caso de desacelerações econômicas, Bernanke orquestrou uma longa lista de programas colossais de socorro financeiro: pacotes de ajuda para Wall Street, uniões forçadas, programas de empréstimos de emergência, a impressão de somas enormes de dinheiro novo e a mais baixa taxa de juros na história dos Estados Unidos. Mesmo um dos críticos mais acerbos de Bernanke agora o elogia: "Ele percebeu que a grande recessão poderia se transformar na Grande Depressão 2.0 e foi bastante agressivo na adoção de medidas que precisavam ser tomadas", disse Nouriel Roubini, presidente da Roubini Global Economics, que sempre criticou as autoridades do Fed por ignorarem os perigos da bolha imobiliária. Mas Bernanke ainda não respira com facilidade. O desemprego está em 9,4% e o próprio Fed prevê que ainda continuará muito alto até o fim do próximo ano. De acordo com membros do Fed, essa atual popularidade de Ben Bernanke poderá despencar à medida que a recuperação se tornar mais lenta do que o esperado por muita gente. "Essa ideia de que vamos navegar tranquilamente daqui para a frente me espanta, pois é absurdamente complacente", disse um membro da instituição. "Os desafios que teremos de enfrentar nos próximos anos serão tão importantes quanto os que enfrentamos nos últimos anos." Embora a Casa Branca continue muda sobre o futuro de Ben Bernanke, há diversos candidatos democratas de peso ao posto, como Lawrence Summers, diretor do Conselho Econômico Nacional; Janet Yellen, presidente do Federal Reserve de San Francisco; Alan Blinder, economista de Princeton e ex-vice-presidente do Fed; e Roger Ferguson, também outro ex-vice-presidente do Fed. Ben Bernanke tem dois grandes desafios pela frente. No campo econômico, o Fed precisará decidir quando e como reverter todas as medidas de emergência adotadas e trazer as taxas de juros de volta ao normal sem paralisar a economia nem provocar inflação. No campo político, Bernanke pretende defender a independência e o poder do Fed no momento em que a Casa Branca e o Congresso debatem planos para reformular o sistema de regulamentação financeira do país. * Edmund L. Andrews é repórter de economia

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