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O impacto da alta do petróleo no Brasil

Pode não ocorrer a curto prazo, mas a alta do petróleo no mercado internacional deve resultar em reajuste dos combustíveis no Brasil. Para alguns analistas isso ocorrerá ainda em 2000. Outros acham que o problema ficará para o ano que vem.

Por Agencia Estado
Atualização:

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) reúne-se neste final de semana e, segundo as informações preliminares e não confirmadas, poderá aumentar a produção de petróleo em cerca de 700mil barris por dia para equilibrar a produção e baixar os preços do produto. A expectativa ao longo da semana, fez o preço do barril disparar e registrar o valor mais alto desde a Guerra do Golfo, em 1990, passando de US$ 35. Somente em 2000, o preço do petróleo já subiu cerca de 37%. O ministro saudita, Ali Naimi, afirmou hoje, que a Opep vai agir para que os preços recuem para uma faixa de US$ 22 a US$ 28 o barril. O ministro-chefe da Casa Civil, Pedro Parente, garante que não há qualquer intenção de reajustar os preços dos combustíveis no mercado interno. Parente acha que a alta é conjuntural e não pode servir de referência. Momento de incerteza O economista sênior do BankBoston, Ricardo Amorim, não acredita que a reunião da Opep irá mudar significativamente os preços. "Seria preciso aumentar a produção em pelo menos 1 bilhão de barris por dia para derrubar os preços. Abaixo desse valor o impacto seria muito pequeno, evitaria uma alta mas não diminuiria o preço", afirma. Segundo Amorim, há uma incerteza muito grande em relação ao preço internacional do petróleo, mas existe uma grande chance de os preços continuarem em alta devido ao inverno no hemisfério norte. "Isso aumenta o consumo, os estoque dos Estados Unidos estão baixos e se não houver produção maior o preço do barril pode subir e alcançar US$ 40", avalia. Aumento depois das eleições O economista sênior do BankBoston diz que, levando-se em consideração o fato do governo ter promovido recentemente um aumento dos combustíveis e o impacto ter sido grande, e lembrando que estamos às vésperas das eleições e isso causaria um desgaste político. "Não acredito em novo aumento de preços internos antes do segundo turno", justifica Amorim. Ele diz ainda que o governo tem uma folga nas contas públicas, o que permitiria segurar mais um pouco o reajuste. Mas, para Amorim, passada a eleição, se o preço do barril do petróleo estiver acima de US$ 30, no máximo até o final de dezembro os combustíveis no Brasil devem ter outro aumento. "Se o governo deixar esse reajuste para o ano que vem, terá menos folga para cumprir as metas de inflação com o FMI, levando a uma política monetária mais restritiva", conclui. Sem aumento, por enquanto O analista da Tendências Consultoria, Fábio Silveira, faz uma avaliação diferente. Ele acredita que nesse ano não haverá impacto dos preços internacionais sobre os preço dos combustíveis no Brasil, até porque houve uma melhora no quadro fiscal. "A meta de arrecadar 800 milhões de reais com a conta-petróleo já foi deixada de lado pelo governo e isso afasta a necessidade imediata de aumento no preço", diz Silveira. Segundo ele, a maior preocupação hoje é evitar que haja um novo impacto na inflação. "Mesmo após as eleições, não acredito que vá haver aumento de preços, essa alta deve ser absorvida pelo setor petrolífero e pelo próprio Estado", explica. Mas a médio e longo prazos a situação é diferente. Defasagem Fábio Silveira explica que os preços da gasolina e do óleo diesel no Brasil ainda estão muito atrasados em relação ao preço do petróleo. "É verdade que os preços podem cair um pouco nos próximos meses, mas a defasagem vai continuar e o combustível terá que ser reajustado no País", avalia Pelos cálculos do economista, o preço do petróleo internacional em reais nos últimos 18 meses subiu 220%. Enquanto isso, o preço da gasolina aumentou 100%. Apesar de haver outros custos na formação do preço da gasolina, o principal item de peso é o petróleo. Perspectivas para a Opep Para Fábio Silveira, a reunião deste final de semana da Opep deve resultar num aumento da produção de até 700 mil barris por dia. Isso levaria a um crescimento da oferta em até 1 milhão de barris acima da demanda, dando uma folga aos estoques, segundo a Agência Internacional de Energia. " Muito dessa corrida de preços está associada a movimentos especulativos. Se a lei da oferta e da procura prevalecesse, os preços deveriam estar abaixo de US$30", afirma Silveira. Mas ele reconhece que a expectativa em relação a reunião da Opep favorece a especulação e a alta exagerada de preços. "O preço está irreal, e não reflete sequer o potencial de recuperação dos níveis de estoque daqui até o final do ano", avalia. O diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Luiz Augusto Horta Nogueira, acredita que, apesar da alta nos últimos dias, o produto deve ter o preço estacionado em US$ 25 o barril a partir do final do ano. A cotação do preço do petróleo próximo a US$ 35,00 também é analisada pelos técnicos do governo como meramente especulativa, sem sustentação até dezembro.

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