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O impacto da desvalorização na indústria argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

"No dia 9 de julho não somente estaremos comemorando a data da proclamação da independência, com também celebraremos o fim da recessão". A segunda parte deste frase, pronunciada pelo presidente Eduardo Duhalde na semana passada, está cada vez mais longe da realidade. Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), em fevereiro a queda da produção industrial foi de 15% em comparação com o mesmo mês do ano passado. Desta forma, o primeiro bimestre acumula uma queda de 17% em relação a janeiro e fevereiro de 2001, uma proporção fora do normal se for levado em conta que no ano passado a Argentina já acumulava três anos de recessão. Os empresários argentinos estão céticos sobre a alardeada recuperação industrial prometida pelo presidente Duhalde. Segundo uma pesquisa do Indec, 34,8% esperam uma queda na demanda interna, enquanto que somente 10,9% têm esperanças de um aumento. Mas, para 53% dos empresários, a situação permanecerá igual à atual, ou seja, estancada, embora sem piorar mais ainda. Diversos analistas consideram que a queda da produção industrial neste ano será de 10% em relação ao ano passado. Contra a recuperação econômica conspiram o congelamento dos salários (além de sua redução), a queda abrupta do consumo interno, a falta de crédito para as empresas e as incertezas cambiais, além das políticas. Como elementos adicionais para complicar o já tumultuado cenário argentino, ainda espera-se um novo ajuste fiscal, uma exigência do Fundo Monetário Internacional. Para Andrés López, do centro de estudos econômicos Cenit, ?era utópico supor que a desvalorização da moeda, ocorrida em janeiro, teria um impacto positivo na indústria argentina?. Com a desvalorização de quase 150% em dois meses e meio, os insumos importados para a produção ficaram com preços proibitivos para as surradas indústrias argentinas. O setor têxtil foi o mais atingido pela nova queda da produção industrial. A queda geral do setor foi de 52%. As piores quedas foram na área de tecidos, de 57,1%, enquanto que as fibras sintéticas despencaram 43,4%. Os fios de algodão registraram uma redução de 34,1%. A queda no setor têxtil é considerada um termômetro ideal para verificar a saúde do consumo dos argentinos, já que esta indústria dedica quase que a totalidade de sua produção para o consumo interno. Outra área industrial duramente atingida foi a automotiva. Em fevereiro a queda registrada foi de 48,1%. No setor vizinho, a metal-mecânica, a queda foi de 52%. A paralisação na construção civil foi evidenciada pela queda na produção de cimento, que perdeu 43,7%. Somente os setores que exportam em grande quantidade puderam apresentar índices positivos de produção. Estes são os casos das matérias-primas plásticas, que subiram 47,3%; erva-mate, com um aumento de 39,6%; dos agroquímicos, com 30% e dos óleos com 28,6%. Outros casos com resultados positivos foram os de papel (aumento de 13%), alumínio primário (3,4%). Além destes resultados, o governo comemorou a levíssima recuperação industrial em fevereiro em comparação com janeiro, que apresentou um crescimento de 0,9%. ?Esta é a primeira vez em dez meses que observamos uma recuperação em relação a um mês anterior?, sustentou Julio Rotman, diretor de Estatísticas do Indec. Em janeiro, a queda na produção industrial foi de 18,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em dezembro, no entanto, ocorreu a maior queda registrada no último ano, de 18,8% em comparação com o mesmo mês do ano 2000. Leia o especial

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