PUBLICIDADE

O início do Tsunami

Por Antonio P. Mendonça
Atualização:

Desde sua instalação no Brasil, em 1808, até hoje, a atividade seguradora experimentou quatro momentos marcantes. O primeiro é o mais longo e menos importante e vai de 1808 até 1939, quando foi criado o Instituto de Resseguros do Brasil. Se caracterizou pelo amplo domínio das seguradoras estrangeiras, que, ao assumir os riscos, enviavam quase que a totalidade dos prêmios para suas matrizes. O segundo vai de 1939 até meados da década de 1980. Se inicia com a criação do Instituto de Resseguros do Brasil e pode ser considerado o responsável pelo primeiro surto de desenvolvimento do setor, com o fortalecimento das companhias nacionais, a retenção dos resseguros no País e a criação de mão de obra qualificada. O terceiro vai de 1986 até 1994. Nele ocorreu a liberação das tarifas e a mudança do paradigma, com os seguros de veículos assumindo a primeira posição entre as carteiras mais importantes. O viés negativo foi a inflação, que corroeu a poupança e dificultou a expansão do segmento. O quarto começa com o Plano Real e vem até os dias de hoje. Sua principal característica é a modernização da atividade e o rápido crescimento do faturamento dos prêmios. Nestes 15 anos de estabilidade econômica, as seguradoras em operação no País mudaram completamente de feição. Investiram na formação de mão de obra de alta qualidade, desenvolveram produtos modernos, a previdência privada aberta tornou-se um dos carros chefes da economia, os planos de saúde privados atingiram seu ápice, as novas regras de solvência garantem a solidez das companhias e, finalmente, o resseguro deixou de ser monopólio do IRB. Nesse cenário, o comércio, a indústria e o setor de serviços passaram a contar com coberturas eficientes, a preço compatível. E a classe média tem à sua disposição produtos capazes de fazer frente à suas necessidades de proteção. No campo das seguradoras, o processo de concentração fez com que diminuísse o número de empresas, que, por outro lado, passaram a ter composição de capital marcada pela participação dos grandes conglomerados financeiros e empresas estrangeiras, com as seguradoras independentes de capital nacional se tornando franca minoria. Na semana passada, teve início o quinto momento da atividade. A primeira onda de um imenso tsunami que ainda se aproxima chacoalhou o setor. A Porto Seguro, maior seguradora independente, se associou com ao Itaú Unibanco, criando um gigante das mesmas dimensões da Bradesco, seguradora líder do mercado. O traço comum é que os dois gigantes têm por trás os dois maiores bancos privados do País. Vale dizer, contam com uma enorme rede de distribuição, que atinge todo o território nacional, além de não enfrentarem qualquer problema de capital. Ainda é cedo para dizer quais serão os próximos passos, e quem os dará. Todavia, o novo desenho do setor está mais ou menos claro. Não tem como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, que já vinham mostrando apetite pela atividade, deixarem de investir em seguros. E não há razão para que o Santander também não reveja sua estratégia para o segmento. Com esses cinco players ocupando seus espaços, fica muito mais difícil para outras seguradoras operarem nacionalmente, com foco em seguros de automóvel, vida em grupo, acidentes pessoais e outros produtos de massa. Isso fará com que o processo de especialização e regionalização ganhe velocidade, para permitir que as demais companhias de seguros continuem existindo e se desenvolvendo. As mudanças serão dramáticas. Companhias deixarão o mercado, outras se fundirão ou serão adquiridas, outras investirão pesadamente na consolidação de suas atuais estratégias e outras buscarão novos nichos de negócios. Nenhum desses movimentos é necessariamente ruim. Pelo contrário, é em épocas como esta que as grandes oportunidades se materializam. Cabe a cada um encontrar seu espaço, seja segurador, corretor, prestador de serviços ou segurado. No final, ganhará o Brasil. Antonio Penteado Mendonça é advogado, sócio de Penteado Mendonça Advocacia, professor da FIA-FEA/USP e do PEC da Fundação Getúlio Vargas e comentarista da Rádio Eldorado.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.