Publicidade

O jeito de fazer negócios dos donos da Avianca

Irmãos Efromovich apostaram em diferentes setores, mas suas empresas no Brasil foram ruindo aos poucos

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz e Renée Pereira
Atualização:

“Crônica de uma morte anunciada” é como um executivo do mercado financeiro se refere à crise da companhia aérea Avianca Brasil, que está em recuperação judicial desde dezembro. Poderia ser também o enredo de outros negócios no Brasil da família Efromovich, conhecida por longas batalhas judiciais travadas nos últimos anos. Germán e José, dois bolivianos filhos de imigrantes judeus, criaram um império desde a década de 90, mas aos poucos viram seus negócios no Brasil se desfazerem.

Germán é tido como alguém que não se esforça para evitar uma disputa judicial Foto: CARLOS VERA/REUTERS/29/03/2016

PUBLICIDADE

Obstinados e duros de negociar, os irmãos Efromovich começaram sua trajetória com uma empresa de serviços para o setor de óleo e gás e expandiram para estaleiros e aviação. No setor aéreo, são donos da segunda maior companhia da América Latina, a Avianca Holdings – que não tem participação na Avianca Brasil. A companhia nacional é controlada por José, o irmão mais novo, e paga royalties para a holding para usar a marca Avianca.

Com dificuldade para pagar o aluguel das aeronaves que utiliza, a Avianca Brasil briga na Justiça para não perder a posse dos aviões. Amanhã, os desembargadores da 8.ª Camara de Direito Privado devem julgar os agravos de instrumento dos arrendadores que querem retomar suas aeronaves. Se o resultado for negativo, porém, a Avianca poderá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e protelar ainda mais a briga judicial.

Mais novo, José é conhecido por centralizar as atenções Foto: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO/15/06/2012

Há cerca de três anos, José Efromovich vem conversando informalmente com potenciais investidores para vender parte da companhia, que precisava de um aporte para financiar a expansão dos últimos anos e sobreviver às pressões do setor, como demanda fraca e dólar em patamar elevado.

Segundo uma fonte, no entanto, Efromovich enfrentava dificuldade para encontrar alguém disposto a colocar dinheiro na empresa, dada a falta de clareza nas informações disponíveis. Com a corda no pescoço, o empresário tenta agora fechar um aporte de US$ 75 milhões (R$ 290 milhões) com a gestora americana Elliott Management, do bilionário americano Paul Singer.

Credor dos Efromovich em outros negócios, o Elliott é conhecido por ser um fundo abutre – que investe em empresas em dificuldades. Foi um fundo de Singer que adquiriu a dívida da Argentina, em 2002, após o país ter dado calote. Conseguiu, 14 anos depois, receber até 15 vezes o valor investido inicialmente.

 Até a semana passada, porém, os Efromovich não tinham conseguido fechar nenhum aporte com o Elliott para aliviar a situação financeira da Avianca Brasil, apesar das longas conversas que travam diretamente com o investidor.

Publicidade

Centralizadores. Considerado simpático e afável, José costuma prender a atenção de todos a seu redor e se entrosar facilmente com desconhecidos.

Germán é mais sisudo e não se esforça para evitar uma disputa na Justiça. Um conhecido o descreve como visionário e alguém que tem a impressão de nada ser impossível. Outro amigo destaca que Germán é um homem simples, de não “ficar agradando muito”, e duro nas negociações: “Não é diferente de outros empresários. Olha no detalhe, mas não prejudica ninguém”.

Bem relacionados no Brasil e no exterior, ambos têm fama de espartanos. Germán não costuma usar a classe executiva quando viaja em empresas concorrentes. José, morando no Rio mas viajando a São Paulo semanalmente a trabalho, trazia as roupas para lavar na capital paulista, onde o preço era menor. Amigos contam que Germán se recusou a dar um carro com ar condicionado para a filha em pleno verão carioca. Dizia que o primeiro carro tinha de ser popular, sem regalias. Ambos são centralizadores, do tipo que conta até o número de papel higiênico e caneta, afirma um amigo.

O calote nas arrendadoras de avião não é o primeiro dos Efromovich. Em 2012, o grupo Synergy, de propriedade dos irmãos, comprou a Aliança Eletroquímica (AEQ), uma empresa do Paraná de produtos químicos e defesa, por R$ 20 milhões. Apenas as quatro primeiras parcelas, de um total de 24, foram pagas, apurou o Estado com fontes que participaram da negociação. Só houve solução quando o fundo estrangeiro Etrum decidiu adquirir a AEQ, pagando o valor devido pelo Synergy aos vendedores.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Também houve calotes no setor naval. Donos dos estaleiros Mauá e Eisa (que pediram recuperação judicial), os irmãos não se preocuparam em dar satisfações aos credores no auge da crise do setor – quando outras empresas tentavam renegociar suas dívidas –, afirmou um fornecedor.

Petróleo. Foi no setor de óleo e gás que os negócios dos Efromovich ganharam impulso nos anos 90, em uma trajetória conturbada. Germán começou a se aproximar da Petrobrás durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, como representante de multinacionais, como a Diamond Offshore, de perfuração. Em seguida, fez uma parceria com a sueca Stena, com quem passou a dominar 30% do mercado de barcos de apoio. Logo criou uma companhia para explorar a área de perfuração, a Marítima. O rápido crescimento no setor levantou suspeitas e criou desafetos.

Havia no mercado acusações de que Germán tinha proximidade com executivos da Petrobrás e, por isso, era beneficiado nas licitações – o que, nunca foi provado, mesmo com as delações na Lava Jato. O relacionamento do empresário com a estatal, no entanto, afundou junto com a P-36. Para comprar a plataforma, Germán montou um consórcio com vários bancos e foi atrás de opções no mercado.

Publicidade

Encontrou na Europa uma plataforma construída para operar no Mar do Norte numa profundidade de 300 metros. Para funcionar no Brasil, onde a profundidade era de 1 mil metros, teve de adaptá-la num estaleiro no Canadá, conta um profissional que trabalhou com Germán na época. O acidente, em 2001, azedou a relação com a Petrobrás, que já vinha dificultando a vida do empresário para participar de novas licitações por causa de atrasos na entrega de outras plataformas.

Após a P-36 afundar, Germán argumentava que tinha direito de receber parte da indenização do seguro. O resultado foi uma longa batalha judicial em tribunais internacionais. Em alguns deles, o empresário foi condenado a pagar alguns milhões à Petrobrás, mas recorreu das decisões. Sem ambiente para continuar no mercado, o empresário vendeu sua empresa no setor de óleo e gás. 

Aviação. Mais ou menos nessa época, os Efromovich decidiram explorar o ramo de aviação quase por acaso. Após receberem duas aeronaves como pagamento de serviços prestados na área de petróleo, decidiram abrir uma empresa de táxi aéreo. O negócio se expandiu e se transformou na Ocean Air (atual Avianca Brasil). Em 2004, eles compraram a Avianca Colômbia, que estava em recuperação judicial. Ao contrário da empresa brasileira, a colombiana não vive uma crise profunda.

No Brasil, a companhia passa por momentos decisivos. Mesmo que haja, amanhã, uma decisão favorável aos arrendadores, os donos das aeronaves usadas pela Avianca dizem não querer mais negócio com a família – o que pode dificultar ainda mais a recuperação da empresa. Procurados, os irmãos Efromovich e a Avianca Brasil não quiseram falar com a reportagem.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.