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O jogo das assimetrias

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Na semana passada, representantes da Argentina e do Brasil se encontraram para tentar um acordo em torno das questões comerciais. É um assunto que ainda vai longe. A crise chegou, o comércio está sendo duramente atingido tanto do lado de lá como no lado de cá e, mais do que o governo brasileiro, o governo de Cristina Kirchner insiste em que devam ser erguidas salvaguardas contra o que chama de prejuízos significativos para a indústria argentina. Mas os pleitos são tão casuísticos que o próprio governo Lula entendeu que as coisas ficariam mais fáceis se os governos deixassem os empresários dos dois lados se entenderem, setor a setor. Essas negociações não fariam sentido nem mesmo se o Mercosul não passasse de uma área de livre comércio, estágio de integração comercial que pressupõe fluxo livre de mercadorias sem taxas alfandegárias entre países membros de um grupo. E menos ainda fazem sentido para uma instituição, como o Mercosul, que se considera em fase mais avançada, de união aduaneira. Os argentinos insistem em que sua indústria está em inferioridade de condições ante a indústria brasileira. Os argumentos chegam a ser estapafúrdios. Reclamam de que o real está excessivamente valorizado em relação ao peso, o que encarece o produto argentino e barateia o brasileiro. Insistem em que os financiamentos do BNDES a juros favorecidos para a indústria brasileira deformam os preços recíprocos; em que o Brasil conta com maior escala de produção; ou em que sua indústria não consegue crédito externo. Seria como se o Rio Grande do Sul quisesse bloquear a entrada de produtos da indústria paulista sob o argumento de que fazem concorrência desleal ao sistema produtivo gaúcho. A notória assimetria comercial entre Argentina e Brasil é consequência de um único fator relevante: orientações econômicas divergentes. Por exemplo, o governo argentino manipula as estatísticas de inflação e isso deforma o câmbio, os juros e o controle de custos da economia. O país não recebe investimentos porque ninguém se esquece do megacalote da dívida passado em 2001 e o próprio argentino reluta em investir, até mesmo em pesos, porque o controle artificial de preços achata o retorno do capital investido. A falta de investimentos deixa o país vulnerável a apagões e ao fornecimento insuficiente de combustíveis. Os projetos de infraestrutura estão ainda mais atrasados do que os do Brasil. E por aí vai. As atuais negociações se sucedem com o objetivo de atender a injunções de curto prazo sem pretensão de ir mais fundo. Um dia, os argentinos querem impor barreiras não alfandegárias sobre uma lista de produtos; no outro, querem negociar limites quantitativos (cotas) para o comércio; no outro ainda, abrem processos antidumping sobre produtos brasileiros, aparentemente com o objetivo de meter um bode na sala para depois tirá-lo. Em nenhum momento os sócios do Mercosul se empenharam a fundo para coordenar políticas de maneira a alcançar a necessária convergência macroeconômica destinada a acabar com essas lambanças. É por coisas assim que o Mercosul não passa de um clube de convescotes e de exibição de retórica entre caciques. Não é uma instituição séria. Confira Virou fumaça - Relatório do Federal Reserve (o banco central americano) divulgado quinta-feira mostrou que os proprietários de casa própria nos Estados Unidos perderam US$ 5,1 trilhões em patrimônio no último trimestre do ano passado. Esses US$ 5,1 trilhões correspondem a 9% do valor dos imóveis ao final de setembro passado. Foi a maior perda num único trimestre em 57 anos. Ao longo de 2008, a perda conjunta dos proprietários foi de US$ 11,1 trilhões ou 9% sobre o valor de dezembro de 2007. Embora não se saiba com exatidão, as perdas com ações foram muito maiores.

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