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O jogo no G-20

Foto do author Celso Ming
Por Celso Ming e celso.ming@grupoestado.com.br
Atualização:

Nesta semana o mundo voltará seu foco para Londres, onde será realizada a reunião de cúpula de chefes de Estado do Grupo dos 20 (G-20) para coordenar políticas para enfrentar a crise global. Como centenas de ONGs, desempregados e descontentes preparam manifestações contra tudo o que está aí, a imprensa terá de se preparar para relatar tanto o que ocorrerá dentro do Excel Centre, onde será feita a reunião, como o que ocorrerá nas ruas. A primeira cúpula com essa finalidade foi realizada em novembro passado, em Washington. Não passou de um ensaio geral, uma vez que o novo líder do país mais rico do mundo, Barack Obama, não tinha tomado posse. Em relação à pauta do evento, até agora houve mais divergência do que convergência entre os senhores do mundo. Os europeus insistem em que é preciso atacar as causas da crise e que, portanto, se trata de reformar o sistema financeiro global, botar xerife sobre as instituições financeiras bancárias e não bancárias e controlar os paraísos fiscais. Os americanos avisam que, antes de reconstruir a casa, é preciso apagar o incêndio. Para isso, convém que os europeus se mirem no exemplo dos próprios Estados Unidos, abram os cofres e despejem pelo menos 2% do PIB para retomar o giro das máquinas e estancar o desemprego. E apontam o dedo para a Alemanha para mostrar que o socorro oficial não passa de uma insignificância (peanuts) de 1,5% do PIB. Os europeus, por sua vez, rebatem com o argumento de que seu sistema de seguro social já é dotado de mecanismos de dispêndio público, especialmente o seguro-desemprego, acionados a cada fechamento de posto de trabalho. Como não têm nada parecido com esse colchão, os americanos não conseguem enxergar seus efeitos, dizem os europeus. Os alemães argumentam que, apenas para a cobertura automática de emergências, já gastam 1,7% do PIB que, somado ao 1,5% dos planos fiscais, chega a 3,2%, bem mais do que o pleiteado. E que, se não inventam pacotes trilionários, é porque sabem aonde essas extravagâncias vão parar. E tem a China, com seu jogo muito particular. Aparentemente, o problema da China é a ameaça de desvalorização do dólar a longo prazo. É a ameaça ao seu patrimônio em reservas de quase US$ 2 trilhões. São os dirigentes chineses que insistem na criação de nova moeda global de reserva para substituir o dólar. Uma das propostas dos chineses para esta cúpula é a capitalização do Fundo Monetário Internacional (FMI). Como a maioria dos membros do Fundo não tem recursos para subscrever o aumento de capital, os chineses querem que o FMI emita títulos com essa finalidade. A China se compromete a subscrevê-los. Ou seja, quer um esquema que facilite seu objetivo de diversificar reservas. (Veja o Confira.) O Brasil está sendo assediado por esses interesses. A viagem do presidente Lula a Washington há duas semanas e a vinda do primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, nesta última, devem ser analisadas nesse contexto. Não está clara a posição do Brasil. Num dia, Lula defende o aumento de despesas dos países ricos. No outro, sugere que é preciso acabar com os paraísos fiscais. E, no outro ainda, adverte que Mateus foi gerado "por brancos de olhos azuis". E parece arrematar: "Quem gerou que o embale." Confira Deixa comigo - Quem duvida de que a China quer diversificar suas reservas deve ler o artigo publicado sexta-feira no Times britânico. Quem assina é Wang Qishan, vice-primeiro-ministro chinês. Aqui vai um trecho: "Para aumentar os recursos do FMI, alta prioridade deve ser dada para o aumento do seu capital (cotas)." "Se isso não puder ser feito no curto prazo, as contribuições (dos países membros) devem ser determinadas com base no atual número de cotas. Se essas contribuições não atenderem às necessidades imediatas, o FMI poderá emitir títulos. A China será compradora deles."

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