É outro governo e não deve ser a mesma política econômica. Não há nenhuma garantia de que este governo pare em pé, especialmente depois da revelação das gravações do diálogo entre a presidente Dilma e o agora ministro Lula. Também não dá para dizer que a política econômica pare em pé. Mas convém examiná-la.
O que vai ser esse filme fica para quando se souber, não por meio de discursos e entrevistas, mas por decisões impostas pela prática. Lula, o novo primeiro-ministro, como ficou dito aqui na edição de terça-feira, tem três opções à sua disposição.
A primeira delas é manter com algumas variações o que está aí, com as autoridades da política econômica disponíveis. Com isso já estaria se desdizendo, porque pregou drástica virada à esquerda. Mais ainda, estaria mantendo a encalacrada.
A segunda opção é a da cartilha do PT e a das atrocidades econômicas que estão no último documento do partido, O futuro está na retomada das mudanças. Se for por aí, tentará queimar reservas, derrubar intempestivamente os juros, aumentar as despesas públicas, puxar pelo crédito subsidiado e deixar as reformas para o Dia de São Nunca. O resultado desse arranjo tenderia a ser novo desastre.
A terceira opção é a conhecida receita do violinista, consagrada pelo presidente da França François Mitterrand: é segurar com a esquerda e tocar com a direita. Seria sustentar um discurso populista, mas, na prática, reeditar o conteúdo da Carta ao Povo Brasileiro, de 2002, que se comprometeu a levar os juros e o superávit primário para onde tiverem de ir para derrubar a inflação e sanear as contas públicas.
É o arranjo que pretenderia recuperar a confiança das forças produtivas e, com base nesse astral, puxar pelo aumento da produção. Mas, depois de tudo o que aconteceu, é duvidoso que o governo Lula-Dilma conquiste credibilidade para rodar esse enredo.
A questão de fundo é a de que o ex-presidente Lula foi para o ministério não para recuperar a economia, mas para tentar evitar o impeachment. A política econômica faz parte, sim, desse script, mas não das primeiras cenas.
A primeira tarefa do ministro Lula, em que colocará toda sua energia, será evitar a debandada do PMDB (veja o Confira). A segunda é apagar os incêndios provocados pela Operação Lava Jato e pelas delações premiadas. E só então, com a energia que lhe sobrar, arrumar a economia.
De tudo isso, salta uma fieira de dúvidas e de incertezas, que começa com estas: Qual será o nível de composição entre a presidente Dilma, agora desidratada – mas ainda a bordo de uma caneta poderosa – e esse superministro Lula, desacostumado a pedir licença? Como a percepção geral é a de que Lula foi para o ministério para fugir de Sérgio Moro e contar com a suposta maior benevolência do Supremo, qual será, na prática, a resposta das instituições de Estado assim desafiadas – do Ministério Público, da Magistratura e do próprio Supremo? O que acontecerá com essa aposta do tudo ou nada se o processo de impeachment ficar inevitável?
Há apenas cinco dias o boneco pixuleco desfilou onde houve manifestações. Agora o personagem do desabafo popular está na Casa Civil.
CONFIRA:
O sexto dia
No último sábado, o PMDB assumiu o compromisso em convenção nacional de que nenhum de seus membros aceitaria cargo no governo federal no período de 30 dias a partir daquela data. Seis dias depois, o deputado federal do PMDB mineiro Mauro Lopes aceitou sem vacilação a chefia do Ministério da Aviação Civil.Claro que sim
O PMBD não nega suas bênçãos. Antes de aceitar a nomeação para a chefia da Casa Civil, o ex-presidente Lula consultou o presidente do Senado, o peemedebista, Renan Calheiros. E este também não vacilou. Declarou seu apoio integral ao novo ministro e lhe desejou sucesso.Questão de fisiologia
Duas conclusões: (1) Certos políticos do PMDB não conferem nenhum valor especial às decisões tomadas em convenção nacional; (2) da mesma forma que se dispõem a quebrar suas juras, serão capazes de retomar as que quebraram, desde que as novas condições lhes convenham. São as leis da fisiologia.