O novo mapa do vinho no Brasil

Técnica de poda da videira permitiu a expansão da produção de vinhos no País

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Por Suzana Barelli
Atualização:
2 min de leitura

Foi-se o tempo em que apenas o Rio Grande do Sul elaborava vinhos. Primeiro, a vizinha Santa Catarina começou a fazer brancos e tintos, aproveitando o clima frio de suas serras. Mas o que se viu, principalmente na última década, foi surgirem vinícolas em áreas diversas do Brasil, com destaque para São Paulo – sim, o Estado tem bons vinhos, principalmente na região da Serra da Mantiqueira –, Minas Gerais, Goiás e a divisa entre Bahia e Pernambuco.

Regiões mais jovens não trazem víciosdatradição de produzir vinhos Foto: GUILHERME HAHN/ESTADÃO

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A técnica chamada de poda invertida ou dupla poda, na qual a videira é, digamos, “enganada”, é a principal razão dessa expansão. Com as podas e o controle da irrigação, consegue-se fazer com que a planta produza frutos no inverno, quando não chove no Sudeste e nas regiões mais centrais do Brasil, e não mais no chuvoso verão. Explica-se: na época da colheita, a chuva torna a uva mais diluída, o que resulta em vinhos com menor complexidade, além de trazer fungos e doenças à videira. No inverno, acontece também a almejada amplitude térmica, aquela maior diferença de temperatura entre o dia e a noite, que faz a uva amadurecer mais devagar, concentrando seus nutrientes.

A dupla poda ainda é técnica recente, desenvolvida pela Epamig. Por enquanto, a uva tinta syrah é a variedade que melhor se adapta a esse cultivo e que predomina na maioria desses vinhos. Mas há bons exemplos com as brancas chardonnay e a sauvignon blanc, e há testes com diversas variedades.

Ao lado da poda invertida, há também o fato de essas regiões serem mais jovens e sem os vícios que a tradição traz. Um exemplo é que seus agricultores são menos reticentes à poda dos cachos, que é uma das ferramentas para obter vinhos mais complexos. Em geral, são empresas lideradas por profissionais sem história no mundo do vinho e com interesse em seguir o que há de mais moderno no trato do vinhedo e na vinícola.

No Nordeste, a técnica de elaboração é outra. Com a irrigação, as videiras conseguem fazer até 2,5 safras por ano, e não apenas uma, como acontece tradicionalmente. E as plantas não hibernam, já que não há inverno. Essa região é a morada de vinhos de maior produção, em geral mais simples – há algumas exceções – e indicados para o dia a dia. Isso tudo não significa que todos os vinhos brasileiros sejam bons, assim como nem todos os franceses ou italianos se destacam. Mas mostra um aumento da qualidade de muitos rótulos e indica que o sul não é mais o único terroir para os vinhos nacionais. Há um novo mapa vitivinícola em gestação no Brasil. * COLUNISTA DE VINHOS DO PALADAR

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