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O PIB fraco e a inflação abaixo da meta

Dados do IBGE mostram que a saída da crise tem sido muito mais lenta do que em outras recessões

Por Bráulio Borges
Atualização:

Mais importante do que os números de um ou outro trimestre, os dados do IBGE sobre o PIB mostram que a saída do “fundo do poço” (fim de 2016) tem sido muito mais lenta do que em outras recessões tão severas e duradouras como a atual: a essa altura do campeonato (cinco trimestres após o término da recessão, seguindo a datação do Codace/FGV), o PIB brasileiro já acumulava altas próximas de 6% tanto na saída do ciclo recessivo 1981-83 como em 1989-92. No episódio atual, essa taxa está em +2,7%.

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O que explicaria isso? Há uma série de fatores, como a elevada ociosidade e alavancagem inibindo uma retomada mais firme dos investimentos, bem como os níveis ainda elevados de incerteza refreando decisões de consumo e de investimento dos agentes. Esses elementos, contudo, também estavam presentes nos outros episódios e ainda assim a retomada foi significativamente mais rápida no passado.

Há algo a mais agora. E, em minha opinião, é a postura da política monetária doméstica: o BC foi cauteloso demais na redução da Selic, a taxa básica de juros, no último ano e meio, dada a magnitude do excesso de ociosidade da economia (hoje em torno de -6%). Isso fica evidente pela inflação corrente e por uma expectativa de que o IPCA se situe abaixo do centro da meta por três anos seguidos (2017 a 2019), mesmo já incorporando nessas projeções os efeitos do choque cambial recente associado ao fortalecimento global do dólar.

Goste-se ou não do nível da meta de inflação definida pelo CMN (essa é uma outra discussão), o BC deveria sempre atuar para evitar desvios sistemáticos da inflação efetiva, sejam eles para baixo ou para cima. Instrumentos para buscar isso ainda estão disponíveis: a Selic ainda está bem distante de zero (embora o nível neutro esteja em torno de 8%) e os recolhimentos compulsórios ainda são razoavelmente elevados.

* É ECONOMISTA SÊNIOR DA LCA CONSULTORES E PESQUISADOR-ASSOCIADO DO IBRE/FGV

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