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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O PIB pode ser ainda mais forte em 2020

O bom avanço do índice no terceiro trimestre deste ano é indicação de que o setor produtivo está em recuperação

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Atualização:

O bom avanço do PIB no terceiro trimestre do ano, de 0,6%, não chegou a surpreender porque já estava nas projeções dos principais analistas. Mas deve ser visto como indicação de que o setor produtivo está em recuperação. Promete um crescimento de algo superior a 1,0% neste 2019 e de cerca de 2,0% para 2020.

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As próximas projeções dos analistas deverão registrar essa melhora de expectativas, o que, por sua vez, ajuda a melhorar o astral da economia. Os novos números do PIB empurram para longe aqueles termos desalentados que se referiam à fraqueza verificada nos trimestres anteriores de “pibinhos” consecutivos e de anemia produtiva. 

Esse alento na renda nacional deve-se a pelo menos quatro fatores: à queda da inflação, que corroeu bem menos o poder aquisitivo da população; a certa queda do endividamento das famílias, acoplada à queda de juros, que barateou o crédito; à liberação dos saques do Fundo de Garantia, que devem ser entendidos como gatilho para a recuperação do consumo; e à relativa recuperação da confiança, graças às reformas e à melhora das contas públicas. 

Pergunta inevitável: esse crescimento é consistente e sustentável ou pontual e passageiro? A hipótese de que não passe de voo de galinha ganha alguma força tanto pelo fato de que os saques do Fundo de Garantia acontecem apenas uma vez, como também pela fragilidade da economia mundial e de importantes parceiros comerciais do Brasil, como é o caso da Argentina

Mas a resposta é de que, desta vez, há mais água para tocar o moinho. Em primeiro lugar, há o embalo (carry-over). O ano de 2020 não começa no zero por hora; começa com uma economia lançada à velocidade de pelo menos 1% em 12 meses.

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Apesar da fraqueza da indústria de transformação, há dois setores que ajudam a empurrar a economia: o agronegócio e o petróleo. O agro ainda pesa pouco no PIB, não mais de 10%, mas mostra excelente dinamismo, graças à grande demanda de proteína vegetal pela China. E o aumento da produção de petróleo deve chegar a perto de 27,0% depois de ter permanecido relativamente estável em 2019. Essa é uma avaliação da produção física. É preciso ver ainda como se comportarão os preços – porque PIB é renda, é medida em dinheiro.

Outra boa promessa é a da construção civil que, em 12 meses, avançou 4,4%. Em 2020 haverá eleições municipais e, apesar do miserê das finanças de grande número de cidades, é um período em que os prefeitos pretendem mostrar o serviço que deixaram de mostrar nos três anos anteriores de administração. Por isso, espera-se mais dinamismo das obras públicas. Bom para o emprego.

Consumo das famílias aumentou 0,8% no terceiro trimestre. Foto: Nilton Fukuda/Estadão - 28/11/2019

Para um desempenho melhor da economia é preciso superar seis obstáculos: o mau estado das contas públicas; a economia mundial relativamente estagnada; o raquitismo da poupança e do investimento; a precariedade da infraestrutura; o enorme atraso com que o Brasil enfrenta o avanço tecnológico global; e a prostração da indústria.

É preciso acrescentar que as trapalhadas e a ineficiência de setores inteiros do governo Bolsonaro não ajudam na recuperação. Ela vem apesar desse jogo contra.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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