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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O pior mês para o emprego formal

Os números do Caged parecem malucos, e de fato o são

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Atualização:

Os números divulgados na quarta-feira pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), tidos pelos técnicos do IBGE como “os piores da história”, parecem malucos. E de fato são. Foram apenas 600 mil contratações formais (com carteira de trabalho assinada) contra 1,5 milhão de dispensas, apenas em abril.

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O dado mais importante não está disponível e não é nem o do desemprego. Trata-se de saber quantos empregos poderiam ter sido criados e não o foram, por insegurança do empregador em relação ao futuro da economia.

Com a população confinada e com grande número de empresas praticamente fechadas, a procura de emprego deve ter caído verticalmente. Como está tudo meio parado, muito provavelmente o trabalhador tenha deixado a procura de emprego para “quando as condições melhorarem”. A distribuição de dinheiro a título de ajuda do governo pode ter contribuído para isso.

As perspectivas não são nem um pouco encorajadoras. Mesmo se vier a recuperação da atividade econômica, é improvável que venha com maciça recuperação do emprego. Um grande número de empresas aproveitou a flexibilização das condições trabalhistas produzida pela Medida Provisória 936 para reduzir salário e jornada de trabalho. Terminado o prazo, nova rodada de demissões parece provável, porque a destruição de faturamento foi geral e foi uma calamidade.

A inflação negativa que está pintando neste mês dá uma boa ideia de quanto vem caindo o consumo até mesmo de alimentos. Não há indícios de volta rápida à normalidade. O número de contaminações e de mortes pela pandemia continua aumentando.

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Com algumas exceções, até mesmo a flexibilização do isolamento social onde está acontecendo vem sendo feita meio no escuro, sem levantamentos confiáveis a respeito do comportamento do coronavírus e do grau de contaminação. A população não foi submetida a testes, como pediu a Organização Mundial da Saúde

A forte queda do investimento estrangeiro no Brasil mostra que há pouca tolerância lá fora com a desorganização da economia, com o caos da política e com a falta de coordenação do contra-ataque ao vírus que se veem por aqui. E essa percepção é sério obstáculo para contratação de pessoal.

Afora isso, as empresas foram surpreendidas com a derrubada dos custos fixos proporcionada pelo home office ou pelo trabalho fora da empresa. O comércio parece impressionado com a força demonstrada pelas vendas digitais (pela internet), sistema que reduz o emprego de mão de obra. Parece inevitável que aumente o desemprego nos próximos meses e, mais importante, que contratações deixem de ser feitas.

O impacto sobre a renda é enorme. As projeções sobre o comportamento do PIB (que é a renda) são cada vez mais negativas – e desencontradas, porque ninguém tem clareza sobre o futuro. Menos renda é menos consumo, menos faturamento das empresas e mais desemprego. É assim que seguimos, sabe-se lá para onde.

Beneficiários do auxílio emergencial de R$ 600 fazem fila em agência da caixa da zona sul de São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão - 30/4/2020

CONFIRA

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» Alto risco

O gráfico mostra como evolui um dos mais importantes indicadores de risco dos títulos do Tesouro do Brasil (de 5 anos), o Credit Default Swap, que é o adicional sobre o que remuneram os títulos do Tesouro dos Estados Unidos, cobrado pelo investidor para ficar com os títulos do Brasil. Esse extra já foi mais alto. Chegou a 366 pontos há um mês. Mas ainda continua alto demais, mesmo com a melhora das contas externas. Reflete a queda da confiança depois do salto abrupto do rombo fiscal do Brasil.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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