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O Futuro dos Negócios

Opinião|O primeiro encontro

A tecnologia a serviço do amor

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Atualização:

A busca por companhia faz parte da natureza humana. Animais sociais que somos, a ideia de utilizar a tecnologia para ampliar as possibilidades de fazer parte de uma comunidade é algo que já discutimos aqui. A extensão deste conceito é a busca não apenas por uma comunidade, mas especificamente por alguém. Independentemente de orientação sexual, gênero, idade, raça ou religião, existem inúmeras opções online para buscar indivíduos com afinidades que possam criar vínculos duradouros (ou não).

Guy Perelmuter escreve toda primeira quinta-feira do mês Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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O primeiro uso documentado de computadores com o objetivo explícito de "combinar" pessoas é de 1959. Dois alunos do professor Jack Herriot (1916-2003), da Universidade de Stanford, entregaram como trabalho final do curso de teoria e operação de máquinas computacionais o "Happy Families Planning Service" (ou "Serviço de Planejamento de Famílias Felizes"). Philip Fialer e James Harvey elaboraram um questionário que foi entregue para 98 pessoas solteiras (49 homens e 49 mulheres). Utilizando um IBM 650 da universidade - provavelmente o primeiro computador produzido em escala - os estudantes calcularam as "diferenças" entre as respostas e montaram uma lista em ordem de "compatibilidade" dos possíveis casais.

Poucos anos depois, em 1964, a inglesa Joan Ball - uma das primeiras empreendedoras a atuar no segmento de tecnologia - criou o primeiro serviço comercial do mundo baseado em computadores para promover o encontro de novos casais: o St. James Computer Dating Service (ou "Serviço de Namoro por Computador St. James"), que depois tornou-se o Com-Pat (um jogo de palavras entre "computador" e "compatibilidade"). A empresa foi adquirida em 1974 pelo serviço inglês Dateline, fundado por John Patterson em 1966. Com 32 anos de operação e tendo sido responsável por cerca de quinze mil casamentos na década de 1990, o serviço foi comprado em 1998 pelo Columbus Publishing Group.

A inspiração para fundação do Dateline veio de uma visita que Patterson fez à Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Foi lá que ele conheceu o serviço que eventualmente levou à fundação, em 1965, da empresa Compatibility Research, de Jeffrey Tarr, David Crump e Douglas Ginsburg. Os interessados no serviço batizado de "Operation Match" (ou "Operação Combinação") enviavam pelo correio um questionário preenchido com uma taxa de US$ 3 (hoje, ajustados pela inflação, o equivalente a cerca de US$ 25, ou quase R$ 100) e recebiam aproximadamente dez dias depois uma lista produzida por um computador com os nomes e os telefones dos candidatos ou candidatas mais promissores de acordo com o algoritmo de compatibilidade utilizado.

Em um paralelo interessante com o Facebook, o público-alvo inicial destes serviços também eram os alunos de algumas das mais renomadas universidades do nordeste dos Estados Unidos. A Compatibility Research atraiu mais de 100 mil clientes em menos de um ano, e logo outros serviços similares (como o Contact, fundado por David Dewan do MIT) surgiram. Um destes serviços, batizado de Project Flame (ou "Projeto Chama"), desenvolvido por um aluno da Universidade de Indiana, foi motivo de uma matéria do site Slate.com em 2014. Seu criador, chamado Ted Sutton, recebia os questionários (mais uma taxa de US$ 1, hoje cerca de US$ 8 ou R$ 30) e simplesmente combinava os cartões aleatoriamente.

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É interessante notar que o surgimento do serviço de compatibilização de pessoas baseado em computadores só foi possível graças ao "aluguel" do tempo de computação das máquinas de grande porte que a partir da segunda metade da década de 1960. Naquele tempo, a ideia de possuir um computador em casa era algo distante - mas com o aluguel do processamento de dados que era oferecido, novos serviços puderam ser criados. Como já vimos aqui, estamos vivendo uma época na qual o aluguel eventual de bens (móveis ou imóveis) tornou-se a forma preferencial de consumo de muitas pessoas - e a computação na nuvem ainda é o paradigma mais utilizado para suportar grandes números de usuários.

A evolução do uso da tecnologia para promover encontros segue como nosso tema para a próxima coluna. Até lá.

*FUNDADOR DA GRIDS CAPITAL, GUY PERELMUTER É ENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E MESTRE EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL. PUBLICA NESTE ESPAÇO TODA PRIMEIRA QUINTA-FEIRA DO MÊS

Opinião por Guy Perelmuter
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