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O problema do câmbio

Por Ribamar Oliveira e email: ribamar.oliveira@grupoestado.com.br
Atualização:

A estratégia de aumentar os gastos públicos para sustentar o crescimento econômico brasileiro poderá se revelar desastrosa. A razão disso é que um maior crescimento em 2009 poderá abrir um buraco nas contas externas do País que não encontrará financiamento externo e, assim, provocará uma desvalorização adicional do real, com conseqüências negativas para o controle da inflação e para o próprio desempenho da economia. Não é difícil entender a situação. A retração da economia mundial no próximo ano implicará redução também do comércio. Assim, ficará mais difícil para o Brasil sustentar suas exportações. O agravante da situação é a forte queda, em dólar, dos preços das commodities agrícolas e metálicas. Foi o movimento de alta dos preços desses produtos que sustentou os elevados superávits comerciais do Brasil ao longo dos últimos anos e permitiu a acumulação inédita de reservas. A tendência para o próximo ano, portanto, é de redução ou eliminação do superávit comercial por causa da diminuição do valor, em dólar, das exportações brasileiras. Essa queda no valor das exportações agrava o déficit do Brasil em conta corrente, que é a conta que registra todas as despesas e receitas do País em dólar, com o comércio e com os serviços. A conta de serviços do Brasil é tradicionalmente deficitária, pois é nela que são registradas as remessas de lucros e dividendos das empresas estrangeiras, os gastos com turismo e com os pagamentos de juros das dívidas, entre outros. Para se ter uma idéia, o déficit em conta corrente este ano ficará em torno de US$ 30 bilhões, mesmo com o País registrando superávit comercial da ordem de US$ 24 bilhões. Para sustentar o seu crescimento em torno de 4% no próximo ano, o Brasil teria que manter um nível elevado de importação. Com a queda do valor das exportações e com a manutenção das importações em patamar elevado, a tendência seria de déficit também na balança comercial. Com déficit na conta de serviços e na balança comercial, o resultado negativo em conta corrente seria ainda maior. O problema é que não existe financiamento externo para esse déficit, o que projeta uma explosão na cotação do dólar, ou seja, uma desvalorização adicional do real. Uma maior oscilação do real dificultará mais ainda os negócios e o planejamento das empresas brasileiras. O resultado de desvalorização da moeda é sempre, no curto prazo, mais inflação e menor crescimento econômico. É importante observar que a forte oscilação do real resulta do sistema de câmbio flutuante que o Brasil adotou a partir de 1999. Esse sistema foi bastante eficiente para permitir o controle da inflação e a sustentação do crescimento, enquanto a tendência era de queda do dólar e valorização do real. Mas, agora, a situação se inverteu e ele permitiu uma abrupta e brutal desvalorização do real. Por isso, ele começa a ser questionado. A experiência está mostrando, segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que não é verdadeira a idéia de que, em qualquer circunstância, um país pode ter vantagens com o câmbio flutuante. A China, por exemplo, que teoricamente sofreria mais com a crise internacional que o Brasil, pois sua economia depende mais das exportações, tem a vantagem de sua moeda não ter sido desvalorizada frente ao dólar nesta crise. Foi a única moeda dos países emergentes. Por isso, argumenta Belluzzo, a China terá margem para fazer uma política anticíclica de gastos públicos para sustentar o crescimento. Belluzzo acha que a crise atual está colocando em xeque o próprio sistema de câmbio flutuante adotado pelo Brasil. O problema não é a flutuação, mas a forte volatilidade que está ocorrendo. O ideal, segundo ele, é que o câmbio seja estável, mas flexível. Para Belluzzo, o importante agora é que o governo tome medidas para impedir que um déficit maior em conta corrente leve a uma maior desvalorização do real e agrave a desaceleração da atividade econômica. Para fazer isso, o governo teria que abdicar do sistema de câmbio flutuante e, por tabela, da política de metas de inflação. Passaria a ter como meta a taxa de câmbio e não a taxa de inflação. Belluzzo diz que uma mudança do sistema só faz sentido numa situação de estresse agudo, como o mundo e o Brasil vivem hoje, em função de uma grave crise financeira. A questão, no entanto, é saber se o atual nível de reservas internacionais do Brasil, em torno de US$ 200 bilhões, é suficiente para sustentar um câmbio fixo ou que flutue muito pouco, num sistema de bandas. A letra da recessão Os economistas divergem sobre a intensidade e duração da recessão dos países desenvolvidos. Para alguns, ela será intensa porém rápida, pois no momento seguinte a economia voltará a crescer. Ou seja, terá o aspecto da letra V. Outros acham que ela será mais parecida com a letra U: mais lenta, durará um pouco mais e, em seguida, o crescimento será retomado. Outros, mais pessimistas, acreditam que ela terá o formato da letra L: será intensa, rápida e de duração imprevisível. Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a letra desta recessão ainda é desconhecida pois ela não se parece com nenhuma outra do passado.

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