PUBLICIDADE

Publicidade

O que a crise pode trazer de bom

Entrevista - com menos capital especulativo, diz presidente do Sebrae, o setor produtivo deve se beneficiar

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Com o objetivo de minimizar os efeitos da crise financeira global sobre o crescimento da economia e, em especial, sobre a geração de emprego, o governo federal e governos estaduais anunciaram nas últimas semanas a liberação de crédito e outros mecanismos que podem ajudar os negócios no atual cenário. O impacto ainda não pode ser avaliado, mas na opinião do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae Nacional, Paulo Okamotto, tais intervenções devem servir de estímulo e amenizar as preocupações com o futuro da economia brasileira. Nesta entrevista, ele demonstra confiança na luta contra o risco de recessão e avalia que poderão surgir oportunidades para pequenos empresários por conta de uma migração dos investimentos - que deverão ser direcionados para setores produtivos, deixando de lado negócios especulativos. Ele fala também das propostas do Sebrae para a tributação das micro e pequenas empresas no Brasil. O empreendedor bem preparado, que tenha um plano de negócios, pode desengavetar um projeto no atual momento? Acredito que sim. Uma crise, lógico, significa perdas de vantagens. Mas é um momento de criação de novos parâmetros. Observo que o mundo todo está trabalhando duro para combater uma recessão. E vejo que agora os recursos devem ser desviados de negócios especulativos para a economia real. Há uma oportunidade para mercados crescerem e se desenvolverem. Muitos países vão continuar crescendo. É uma crise de reajuste do sistema financeiro internacional que tende a derrubar paradigmas. Que tipos de mercados podem a ganhar espaço nessa recomposição do ambiente empresarial? Como agora os países devem canalizando investimentos para setores produtivos, provavelmente idéias mais pretensiosas, como a de um spa internacional, por exemplo, perdem espaço. Nesse ambiente, deverão receber recursos negócios relacionados à infra-estrutura, áreas de saúde, educação e de produção de alimentos. São atividades que necessitam manter a produção ativa, pois as pessoas precisarão se alimentar, se vestir, estudar. O fato de a economia brasileira não depender tanto do mercado externo pode servir de alívio aos empresários? O mercado interno é forte e o governo tem demonstrado empenho em ajudar a manter o nível de emprego e o crescimento da economia, mesmo que seja em índices menores do que se projetava antes. Diversos setores manterão sua participação na compra do brasileiro, que deve adquirir aquilo que caiba no seu orçamento. Essa força do mercado interno é um fator diferencial nesse momento. A um mês do Natal, acompanhamos a revisão de vários segmentos quanto às expectativas de vendas, por conta da escassez de crédito. Como esse problema vai impactar o desempenho das pequenas empresas? Grandes ou pequenas lojas muitas vezes são financiadas por grandes atacadistas. Em outros casos, o problema está mesmo no crédito ao consumidor que, sem opções, deixa de comprar. Aparentemente, as taxas ficaram mais caras, mas o governo tem pensado em formas de disponibilizar recursos às micro e pequenas. Há setores com mais dificuldades para tomar recursos. Nesse caso, a saída será rever as práticas, fazer um ajuste nas contas. Revendedores de motos, carros usados, que estavam em forte ritmo, deverão rever suas estratégias. Mas, vejo que o problema está mais nas grandes empresas. Elas sim terão de esperar que o cenário internacional se acomode. Apesar de as pequenas ainda representarem pouco na pauta exportadora, como elas ficam nesse momento? Se o crédito à exportação é reduzido, isso pode ser um limitador. Em contrapartida, a valorização do dólar pode ser uma vantagem. É cedo para falar, mas uma coisa pode compensar a outra. Saindo da crise, em que pontos avalia que a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa ainda pode avançar? Esse é um instrumento muito importante, que facilita a vida do pequeno empresário. Mas, precisa avançar. O Sebrae vai se articular no próximo ano com os prefeitos eleitos, no sentido de ampliar a aplicação da lei. Fazer com que os empresários nos municípios também se beneficiem da legislação, por exemplo, no que se refere a facilidades na abertura e encerramento de empresas, mudança de endereço, entre outras. Um ponto, porém, que temos observado com atenção é que vários Estados têm usado a lei como forma de recolher impostos de forma centralizada, o que na verdade é um pagamento antecipado de tributos. O que mais o Sebrae tem reivindicado em favor das micro e pequenas? Aguardamos agora a aprovação no Senado de um projeto de lei que institui a figura do microempreendedor Individual . Nossas pesquisas revelam que essa inovação tem potencial para incentivar a formalização de mais de 8 milhões dos cerca de 10, 3 milhões de negócios informais existentes no País. Será enquadrado no sistema o negócio individual com receita bruta anual até R$ 36 mil que se formalizar e se enquadrar no Simples Nacional. São negócios que podem ficar isentos de tributos previstos no Simples Nacional, pagando taxas fixas mensais de R$ 50 do INSS Patronal. Já os prestadores de serviços pagariam o mesmo valor mais uma taxa de R$ 30 de ISS. Também esperamos que as compras governamentais sejam estendidas aos municípios. Em que setores o Sebrae pretende concentrar esforços em 2009? Vamos aperfeiçoar nossa central de relacionamento, com o objetivo de fazer até 10 milhões de atendimento no ano. E ampliar outros serviços, como o portal e seus recursos, e fazer de 2009 o ano da inclusão digital dos micro e pequenos. Vamos dar continuidade aos programas montados para empresas em estágios mais desenvolvidos. A idéia é trabalhar a inovação, para que elas cresçam tanto no mercado interno quanto no externo. Vamos ter 810 agentes locais de inovação, profissionais graduados nas mais variadas especialidades, capacitados pelo Sebrae, preparados para visitar as empresas e propor inovação in loco. Com isso, o Sebrae espera mapear as empresas mais inovadoras e replicar o que existe de melhor nelas para outros tipos de negócios. Antes de assumir a presidência do Sebrae em 2001, Paulo Okamotto, de 52 anos,foi diretor de Administração e Finanças da entidade. Ele está no segundo mandato. Em 1990, participou da criação do Instituto Cidadania, organização não-governamental dedicada ao estudo, debate e divulgação de políticas públicas alternativas. A entidade é presidida por ele desde 2001. É um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e também da CUT (Central Única dos Trabalhadores).

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.