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'O que derruba o presidente é a economia fraca', diz CEO do Banco XP

Executivo vê chance de polarização entre Lula e Bolsonaro em 2022, mas ressalta que há 'muita água para rolar'; até lá, ele reforça o coro pela vacinação em massa

Foto do author Aline Bronzati
Por Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

Foi em plena pandemia que o executivo José Berenguer, de 54 anos, decidiu trocar o banco americano JP Morgan para buscar uma alternativa de carreira. Acabou se deparando com a XP, onde ingressou há sete meses, com o desafio de posicionar a companhia em condição de disputa com os grandes bancos brasileiros.

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Além da disputa com gigantes e com uma série de bancos digitais, Berenguer também vem enfrentando o difícil cenário da pandemia no País e as turbulências de Brasília. “Se eu deixar esse ruído político afetar o meu dia a dia, deixo oportunidades em cima da mesa”, disse o executivo, na série Olhar de Líder, em que jornalistas do Estadão/Broadcast entrevistam líderes de grandes empresas.

Para 2022, o executivo vê a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como cenário provável. Mas, como há “muita água para rolar” até lá, ele reforça o coro pela vacinação em massa. “O que derruba presidente é muito mais uma economia fraca.” Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Berenguer vê 'revolução' no mercado bancário com tecnologia, open banking e Pix. Foto: Vivian Koblinsky/Divulgação

Ao sair do JP Morgan, por que o sr. escolheu a XP?

É uma questão de fácil resposta. Adoro o JP Morgan e a equipe que está lá. Ao longo de sete anos e meio, chegou o momento em que senti que o meu ciclo estava chegando ao fim e a próxima etapa era eu me mudar para os EUA. Estou com 54 anos, acho que tenho uns 10, 15 anos de gás para trabalhar. Conversei com algumas pessoas, com o Guilherme (Benchimol, fundador da XP), e a nossa conversa se desenrolou muito bem. Então, saí do JP Morgan e vim para a XP.

Onde a XP quer chegar?

Tem uma revolução tão grande acontecendo no mundo financeiro – com tecnologia, open banking, Pix e outras iniciativas – que vai fazer com que a competitividade aumente no segmento. Uma empresa com as características da XP tem condições de ocupar um espaço muito importante. Foi isso que me fez pensar na XP como primeira alternativa.

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O sr. acredita que o PIX e o open banking podem ser uma grande revolução. Por quê?

O open banking empodera ao cliente, dá a ele capacidade de comparar produtos e portar (transferir) operações entre diversos agentes. Há um deslocamento de forças em direção ao cliente. E a agenda do open banking no Brasil é muito moderna. É completa, vai pegar investimentos, operações de seguro, que ficarão à disposição de instituições financeiras e não financeiras. Vai haver uma mudança grande no mercado, novos players aparecerão, talvez haja muito menos concentração. É bom para o cliente.

Como o sr. vê o ambiente de competição do mercado bancário no País?

O ambiente competitivo hoje é ameaçador para os incumbentes. Novos agentes vão entrar, o que tratará mais competitividade e redução da rentabilidade de grandes bancos. O Pix e o open banking vão nessa direção, e você tem as big techs gravitando em torno desse mercado, fazendo algumas coisas pontuais em pagamentos. 

Como fica a XP nesse cenário?

Prefiro colocar a XP como sendo uma grande fintech, com a ambição, talvez, de ser a fintech mais bem-sucedida do mundo não em tamanho, mas na forma como interage e atende o cliente.

Como o sr. vê a atual turbulência na Bolsa brasileira?

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O Brasil é o país das oportunidades, mas não é para amadores. É complicado trabalhar no Brasil, a gente está sempre tendo sobressalto, mas há muita oportunidade também. A mudança que a redução dos juros trouxe para o comportamento dos investidores é excepcional. A gente hoje tem um mercado de capitais funcionando como deve, financiando o crescimento dessas empresas. Esse funcionamento pleno do mercado de capitais é super importante para o futuro do País.

Nas últimas semanas, empresários e banqueiros começaram a cobrar uma resposta para os problemas do País. Qual sua opinião da gestão do governo Bolsonaro em relação à pandemia?

Vejo os números – e não são bons. Portanto, há espaço para melhora. A saída é vacinar e é o que o ministro da Economia (Paulo Guedes) tem dito. É fácil julgar. Tem uma narrativa negativa em relação à condução. Prefiro ter humildade e dizer que não conheço os detalhes. Quem está sentado ali está tentando fazer o melhor com as limitações que tem. 

Qual é sua opinião sobre a compra de vacinas pelo setor privado?

É uma questão ampla para uma resposta simples. Tendo, hoje, a achar mais que é papel do setor público e a gente deveria ter o SUS conduzindo essa iniciativa. Mas já mudei de opinião algumas vezes e não consigo cravar uma resposta.

O sr. acredita que a agenda de reformas do governo Bolsonaro ainda tem chance de sair?

Nos próximos 12 meses, acho que vai ter uma discussão da reforma administrativa e começar a da tributária, que é mais complexa. Por que acredito que vai acontecer? Por questão de limitação. Não dá para gastar mais do que você arrecada. 

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Como sr. vê o xadrez político? A disputa vai ser entre Lula e Bolsonaro em 2022?

É um cenário provável. Tem essa discussão se o Centro vai se aglutinar em um nome ou se vai abrir uma pulverização. As coisas se alteram no decorrer do tempo, com o quadro econômico. O que derruba presidente é muito mais economia fraca, recessão e inflação fora de controle do que uma questão política em si. Ainda é cedo, mas hoje, sem dúvida, o cenário é ter uma polarização entre Lula e Bolsonaro. Mas tem muita água para passar embaixo da ponte.

O mercado financeiro apostou em Bolsonaro em 2018. Pode agora migrar para Lula?

É difícil. Depende do que acontecer até lá, de com quem o Lula se associaria, de como o Bolsonaro vai conduzir a agenda e econômica até lá. É como você colocou: o mercado apoiou o Bolsonaro. (Mas) conheço vários banqueiros, vários que votaram no Haddad. Vários.

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