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''O que estamos vendo é um soluço de volta do crédito''

Retomada deve ser vista com cautela, diz economista

Por Andrea Vialli
Atualização:

Os indícios de que o crédito estaria voltando a irrigar a economia devem ser vistos com cautela e não sinalizam uma volta do crédito aos patamares do período anterior à crise. "O que estamos vendo agora não é uma retomada do crédito aos níveis de antes da crise. É um soluço da volta do crédito", afirma o economista Andrew Frank Storfer, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Nas últimas semanas, bancos privados e públicos passaram a reduzir juros e aumentar prazos para os financiamentos imobiliários e para veículos. Também está crescendo o volume de recursos destinados para crédito à pessoa física - caso do Banco do Brasil, que anunciou ontem um incremento de R$ 13 bilhões para essa modalidade. Segundo o economista, os empréstimos que estão voltando à praça são justamente os que oferecem maior rentabilidade e segurança para os bancos. "Como os juros ainda estão elevados e o cenário que se desenha para os próximos 12 meses é uma queda na taxa Selic, é lucrativo para os bancos ofertarem crédito a juros prefixados nesse momento", diz Storfer. Além disso, com a queda na básica de juros, os bancos tendem a compensar a perda de receita com o crescimento no número de empréstimos. "Esse movimento é saudável para a economia, mas está longe de ser uma retomada." Na avaliação da Anefac, o crédito está voltando nas operações de menor risco de inadimplência - caso dos empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, que são uma das modalidades mais seguras. O mesmo ocorre com os financiamentos imobiliários, que estão atrelados a um planejamento maior por parte do tomador. O alongamento dos prazos para financiamento de veículos, que em alguns bancos voltou a ser de 72 meses (6 anos), também reflete uma situação de menor risco para as instituições. "São operações extremamente lucrativas e garantidas para os bancos, que agora estão com recursos em caixa", diz Storfer. A projeção da Anefac é que existe a real possibilidade de que a taxa de juros Selic chegue a um patamar de 9%, com inflação abaixo de 4% ao mês, ao final de 2010. Mas os juros em queda e uma inflação sob controle não significam, necessariamente, uma economia a pleno vapor. "Há um cenário otimista, de um País estável e em crescimento, mas também existe a perspectiva de que a economia se mantenha desaquecida e de uma inflação baixa por falta de demanda. Por isso, é preciso destravar o crédito produtivo." PEQUENAS E MÉDIAS O economista acredita que a verdadeira retomada do crédito se dará quando um volume maior de recursos estiver disponível para as pequenas e médias empresas, que são as mais impactadas pela retração dos financiamentos. "Essas operações trazem mais riscos aos bancos, mas têm um efeito mais duradouro para a economia como um todo", diz Storfer. Segundo ele, como as pequenas e médias empresas são grandes empregadoras, estimular o crédito produtivo serviria para manter postos de trabalho em todo o País e atenuaria os efeitos da queda da renda sobre o consumo. "Talvez em um segundo momento os bancos se voltem para as pequenas e médias. Por enquanto, a preocupação é com a lucratividade das operações."

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