Publicidade

O que pode vir depois dos panelaços

Por Agencia Estado
Atualização:

?O povo está cheio desses políticos incompetentes. Está farto da corrupção e das promessas não cumpridas. Por isso faz panelaços?. A afirmação é de Enrique Duhau, fundador da associação civil Democracia Direta, que propõe um passo além das manifestações populares pacíficas: a reforma política e a ?refundação? da Argentina para que o país possa sair da crise. Morador da Recoleta, bairro chique de Buenos Aires, há cinco meses Duhau criou a associação com um grupo de 50 empresários e profissionais de várias áreas. ?Acreditamos que a causa mais profunda da crise é que todo mundo decidiu se afastar da política na Argentina. E a deixou para aqueles que não tinham outra coisa para fazer. Por isso temos esses políticos despreparados, muitos dos quais não podem nem andar pela rua porque podem ser agredidos pela população?, diz. Presidente de uma empresa agropecuária, casado, pai de filhas gêmeas de 12 anos, Duhau é partidário dos panelaços. A cadeira de rodas em que se desloca não foi impedimento para participar de alguns desses protestos. Em pouco tempo ele estabeleceu contato com outras dez associações que trabalham com as mesmas idéias para fazer uma mobilização ?de gente que se ocupe do aspecto público, sem estar nas estruturas partidárias?. O resultado da iniciativa é a criação de um projeto para mudar o sistema eleitoral. Segundo o artigo 39 da Constituição de 1994, um número de cidadãos equivalente a 1,5% dos eleitores pode apresentar um projeto ao Congresso, que tem a obrigação de debatê-lo em um prazo de doze meses. São necessárias 378 mil assinaturas de seis distritos eleitorais para apresentar um projeto de lei na Câmara de Deputados. A Democracia Direta já tem 50 mil. A associação quer mudar o sistema de eleição de deputados e permitir que cada eleitor escolha exatamente quem quer ver como seu representante. Hoje o voto é dado a uma lista de candidatos, e assumem os mais votados entre eles. ?Na Argentina temos uma partidocracia. O povo tem de votar em uma lista que é decidida pela cúpula dos partidos. Precisamos de um sistema em que os representantes sejam realmente eleitos pelo povo e que o representem?, disse Duhau. A Democracia Direta baseia sua ação na filosofia de Vaclav Havel (ex-presidente da ex-Checoslováquia), de que quando alguém precisa se desvencilhar de um inimigo muito poderoso não pode enfrentá-lo diretamente, porque vai perder. Deve concentrar toda a força em um único ponto. Quando atinge seu objetivo, dirige as forças a outro. ?Isso permite vitórias sucessivas. Havel conseguiu se desvencilhar dos russos?, afirma Duhau. A associação já começou a trabalhar para alcançar sua próxima meta. Um grupo de 50 pessoas ? profissionais de diversas áreas e estudantes - está redigindo um projeto para recriar a Argentina. O plano prevê não só mudar o sistema de representação eleitoral, mas também reduzir o Estado e obrigá-lo a cumprir bem o seu papel. ?Poderíamos crescer rapidamente. Há exemplos bem-sucedidos, como os da Irlanda, Nova Zelândia, Espanha e Polônia?, afirma Duhau. Segundo ele, um dos males da Argentina é que desde 1990 as despesas do Estado aumentaram 130%, enquanto o PIB cresceu apenas 50%. Também será proposto que os partidos sejam obrigados a realizar eleições internas abertas e simultâneas; que exista transparência sobre o financiamento dos partidos; que os gastos e as ações do Estado sejam publicados na internet; que os impostos só possam ser aumentados após aprovação em plebiscitos; que seja feita uma depuração na Justiça; e que seja criado um financiamento da educação pública ?para que volte a ser o que era?. Leia o especial

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.