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O risco americano

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Por Redação
Atualização:

Não deixa de ser estranha essa recomendação do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que atua como uma espécie de banco central dos bancos centrais, para que os países emergentes sigam empilhando reservas externas. O argumento é o de que as reservas funcionam como blindagens contra a crise. Mas por que seguir blindando uma economia se a crise está próxima de ser revertida? Ou será que não está? Há outras perguntas instigantes a fazer. O nível atual das reservas dos países emergentes foi suficiente para defendê-los dos vagalhões mais devastadores da crise. Por que é preciso mais? Será que o BIS está enxergando novo agravamento à frente? País que fortalece suas reservas reforça-se como credor dos Estados Unidos porque, na prática, fica obrigado a adquirir títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Hoje, não há muita aplicação diferente a fazer com as reservas porque faltam aplicações seguras e líquidas em outros ativos. Basta acompanhar as críticas que os dirigentes da campeã em reservas, a China (que tem pouco menos que US$ 2 trilhões), vêm fazendo à trajetória do dólar para entender que um forte aumento das reservas pode tornar um país excessivamente vulnerável à enorme fragilidade dessa moeda nos mercados que todos os observadores estão apontando. O déficit orçamentário anual dos Estados Unidos vai ultrapassando o US$ 1 trilhão, as emissões para garantir o financiamento desse rombo não param de crescer, o que alimentou certas desconfianças sobre o valor desses papéis a longo prazo. O súbito desinteresse do resto do mundo pelos T-Bonds de mais de dez anos obrigou o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) a sair a mercado para comprar US$ 300 bilhões neste ano. Não se pode assegurar que a recomendação do BIS para que os países emergentes aumentem as suas reservas se resuma a fazer o jogo do Tesouro americano aparentemente interessado em criar demanda para micos futuros. Mas será esse o resultado final, se o atual esvaziamento do dólar continuar. O Banco Central do Brasil retomou suas compras de moeda estrangeira, tanto no mercado futuro como no mercado à vista. O argumento é o de sempre: é preciso reduzir a volatilidade do câmbio e recompor reservas. O efeito conhecido é evitar o aprofundamento da valorização do real. No entanto, mesmo que o Banco Central pretenda aumentar as reservas externas, que hoje são de US$ 202 bilhões, cabe perguntar até que ponto vale a pena seguir nessa política. Reservas externas custam dinheiro ou aumento da dívida pública. A partir de certo nível, é discutível que melhorem significativamente a capacidade de resistência da economia a crises. Certos exportadores brasileiros adoram quando o Banco Central se põe a comprar dólares. Eles são os primeiros a se desfazerem de suas posições em moeda estrangeira. Além disso, como já foi apontado nesta coluna, quanto mais impressionante a exibição de musculatura em reservas, mais a economia brasileira atrai dólares cuja entrada, por sua vez, concorre para reforçar a longo prazo a valorização do real (derrubada do dólar no câmbio interno), como acontece agora. Confira BC cirandeiro - Antigo crítico da política econômica, o governador José Serra fez ontem acusações graves à atuação do Banco Central (BC). Disse que produz pirâmides financeiras por puro desconhecimento de como funcionam as coisas. "É o efeito Ponzi caboclo", atirou. Serra não atacou o regime de metas nem o sistema de câmbio flutuante. Apenas avançou que os dirigentes do BC não entendem do assunto e executam mal o que fazem. São as mesmas críticas que vem fazendo ao BC desde os tempos da administração Armínio Fraga, ainda no governo Fernando Henrique.

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