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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O santo é de barro e o andor, desconjuntado

Os indicadores da economia melhoram, mas não dá para sair comemorando

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Acontece. Durante um tempão, notícia boa não “pega”. As pessoas só reparam no ruim. Mas, lá pelas tantas, nem sempre com a devida explicação, tudo muda e até notícia ruim é olhada pelo seu lado bom.

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A economia está entrando nesse clima. No momento, predomina um auê de que a mola no fundo do poço entrou em ação e voltou a catapultar o emprego e de que a hora é de recuperação.

Durante meses, esta Coluna vinha alertando de que nem tudo estava tão ruim quanto se dizia e que o ajuste começava a funcionar. Havia o tombo da inflação, o show das contas externas, a supersafra. Mas as pessoas estavam propensas a dar mais importância para a recessão, para o desemprego e a perda de renda. Prevalecia o baixo-astral.

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Os indicadores da economia melhoram, mas não dá para sair comemorando. Convalescença da economia é uma fase vulnerável e a instabilidade do quadro político é um ponto fraco. O dado mais relevante que mostra a recuperação veio do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que apontou avanço médio no primeiro trimestre de 1,12%. Dia 1.° sairá o PIB do primeiro trimestre com provável crescimento em torno disso, resultado positivo que não se via em oito trimestres.

Mas esse não é dado positivo isolado. O mercado já espera para todo este ano inflação abaixo de 4%. No dia 31, o Banco Central baixará os juros básicos (Selic) em pelo menos 1 ponto porcentual ao ano. Mas há boa probabilidade de que corte mais fundo.

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As contas externas surpreendem com redução do déficit em conta corrente, que é o resultado líquido das receitas e despesas em moeda estrangeira com o exterior (exceto fluxo de capitais). E, nesse particular, as exportações ultrapassam os melhores prognósticos. Por conta disso, as cotações da moeda estrangeira vêm caindo no câmbio interno. Começaram o ano a R$ 3,28 por dólar e agora oscilam abaixo disso.

A mãe de todas as encrencas são as contas públicas. Mas mesmo aí há algum progresso. Apesar da quebra de arrecadação, a PEC do teto tem boa probabilidade de ser cumprida. E, na base do um pra frente e meio pra trás, as reformas estão andando. Hoje há mais gente acreditando em que o rombo já não se alargará tão rapidamente como antes. Prova de que essa percepção está bastante disseminada é o que se nota no índice de risco do Brasil, que é o seguro contra o calote da dívida: o Credit Default Swap, o título que mede isso, caiu de 501,67 pontos porcentuais registrados no fim de 2015 para os atuais 193,77 pontos.

É preciso falar, também, do desemprego. Há indícios de melhora, como a abertura de novos 59,8 mil postos de trabalho em abril, mas não convém festejar. Este será o último setor a se recuperar. E, ainda assim, se houver retomada da indústria, o empresário preferirá recorrer à automação e à tecnologia de informação para aumentar a produção com o mínimo de contratação de pessoal.

Enfim, é preciso cuidado, porque o santo é de barro e o andor está desconjuntado. Bastará, por exemplo, que a reforma da Previdência seja rejeitada para que muita coisa desabe.CONFIRA

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» Depois de ameaçar ficar abaixo dos R$ 3,10, as cotações do dólar deram ontem uma esticada. Fecharam a R$ 3,13. Mas esse movimento nada tem a ver com os fundamentos da economia brasileira. Refletem as incertezas sobre a capacidade o presidente Donald Trump se manter no governo. 

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» Impeachment?

Não adianta avançar prognósticos sobre isso. A política tem lá sua dinâmica. Eventuais transgressões da lei podem não ser decisivas para um desfecho

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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