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O segredo das pessoas mais produtivas

Novo livro de Charles Duhigg revela os aspectos da ciência da produtividade

Por Lucia Guimarães e NOVA YORK
Atualização:
Caminho. Para Duhigg, a única forma de lidar com a sobrecarga de tarefas é criar listas de prioridades e modelos mentais Foto: KIMBERLY WHITE| NEW YORK TIMES

Quando se fala no retrocesso na produtividade do brasileiro, pessimistas pensam em clichês como o Barnabé do serviço público que se move a uma velocidade do praticante de Tai Chi Chuan, mas sem a graciosidade dos movimentos. O instituto global de pesquisa Conference Board revelou, em 2015, que era preciso reunir quatro trabalhadores brasileiros para obter a produtividade de um americano.

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O debate da produtividade está em dia não só por causa da desaceleração do crescimento global – ele entrou na vida privada. Graças a uma invasão tecnológica sem precedentes na história humana, passamos o dia ocupados, o que está longe de significar que estamos mais produtivos.

Mais Rápido e Melhor, os Segredos da Produtividade na Vida e nos Negócios (Editora Objetiva), o novo best-seller de Charles Duhigg, autor do sucesso O Poder do Hábito, trata dos processos que distinguem as pessoas produtivas. Assim como explorou estudos de psicologia e neurociência no primeiro livro para mostrar como hábitos podem ser alterados, em Mais Rápido e Melhor, Duhhig divide o tema da produtividade em oito capítulos, reunindo cada aspecto da ciência da produtividade, como motivação, foco, equipes e metas a histórias reais, que vão desde Annie Duke, a cientista que se tornou campeã de pôquer, passando pelo sucesso inicialmente improvável de Frozen à tragédia do voo 447 Rio-Paris da Air France, em junho de 2009.

Hoje editor de eventos e conteúdos especiais do New York Times, Duhhig me recebe na sede do jornal em Manhattan exibindo o resultado de um hábito interrompido, o de se barbear. Ele transpira otimismo. Enquanto me conduz ao vasto refeitório do sexto andar, penso que estou em companhia da versão orgânica do que Duhigg escreveu nos dois livros.

Ele explica como a decisão de fazer pares, entre histórias reais e temas da produtividade é mais do que um dispositivo para tornar a leitura agradável, foi inspirada no estudo neurológico dos modelos mentais. “Sabemos que o cérebro tem dificuldade de reter ideias, a não ser que estejam ancoradas em algum tipo de história,” diz. “É também dessa maneira que fazemos sentido das nossas vidas, é como programamos nosso cérebro para prestar atenção em certas coisas e ignorar outras.” Duhigg lembra que todos nós estamos construindo modelos mentais quando, por exemplo, pensamos, no trânsito, sobre o que vamos fazer quando chegar em casa à noite.

A diferença, diz ele, é que as pessoas mais produtivas se esforçam por visualizar mais especificamente modelos do que esperam acontecer.

“Por exemplo”, continua, “um estudo de CEOs revelou que a maioria tem uma rotina diária à qual vários se referiram como oração, mas não no sentido religioso. Separam uns 15 minutos para visualizar seu dia. Qual a minha principal meta? E quais os maiores obstáculos?” Com o roteiro mental, ele explica, o cérebro se torna mais sensível e distingue mais rápido o que merece atenção e o que merece ser ignorado.

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O hábito de visualizar objetivos se torna central na capacidade de adquirir e manter foco. E pode representar a diferença entre a tragédia da Air France, que matou 228 pessoas, e o pior desastre mecânico no ar da aviação moderna, o do voo 32 da australiana Qantas, entre Londres e Sidney, que teve final feliz em novembro de 2010.

“Não havia essencialmente nada de errado com o Airbus da Air France”, lembra Duhigg sobre o sensor que congelou e desligou o piloto automático. “Se os pilotos não tivessem feito nada, o avião não teria caído no mar. Eles não tinham controle sobre sua atenção, desviaram o foco para ruídos e sinais errados de medidores, reagindo incorretamente e provocando a queda.”

Foco. Já o Airbus da Qantas sofreu uma explosão catastrófica de um dos motores e abriu-se um grande rombo numa das asas. No comando do avião, estava o veterano Richard de Crespigny, um fã dos modelos mentais. Ele costumava desafiar os copilotos, perguntando, o que vai fazer se acontecer isto ou aquilo? O que fará com as mãos, o que vai olhar primeiro? No meio daquela emergência, quando havia roteiros demais em competição, Crespigny resolveu procurar uma história simples para tentar pousar. E escolheu a do Cessna, um avião que tem os controles básicos de voo. E foi nisso que ficou focado, afastando distrações de múltiplas emergências em torno dele.

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Motivação individual e em equipe são fatores que Duhigg destaca como chaves da vida produtiva. Ele visitou um pesquisador da Universidade de Pittsburgh, que estudou, através de ressonâncias magnéticas do cérebro, a fisiologia da motivação. E mostrou como o direito de escolha da tarefa, ao contrário da imposição, aumenta a produtividade. Em grupos, o autor argumenta que eles se tornam mais produtivos quando todos têm voz e não apenas um especialista distribui tarefas. “Sei que isso parece o oposto da eficiência,” admite. “O líder de uma equipe precisa garimpar a expressão individual.”

O autor diz que a rotina de “multitasking” acumulou em décadas o que equivale a um desafio à evolução humana milenar. A única maneira de lidar com a permanente sobrecarga de estímulos e tarefas, diz, é criar sistemas de proteção como listas de prioridades e modelos mentais. E não confundir deliberar com reagir. “Somos predispostos a reagir”, diz. “A reação consome menos energia na nossa mente. Temos de nos forçar a deliberar-pensar com mais profundidade. Essa pequena diferença, de pensar mais profundamente, distingue as pessoas bem-sucedidas do resto.”

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